Seu pai já morreu. Não precisa de Dia dos Pais para se lembrar disso. Basta ir ao estádio ver o jogo do seu time. Que era também o clube de coração dele e do pai dele. Que, quando você era pequeno, era ele quem te levava. 

Que saudade bate ao escolher o lugar na arquibancada, na energia liberada ao se gritar gol, ao comprar a pipoca e o picolé. A partida acaba e você voltou para casa desejando viajar no tempo para caminhar de mãos dadas com ele.

Você ainda sente um frio na barriga ao recordar que seu pai austero foi chamado pela diretora para uma reunião disciplinar na escola. E fica pensativo ao perceber que aquele comportamento enérgico talvez faça falta em tantas iniciativas de sua própria vida adulta, atualmente.

Nem parece que há tantos anos ele partiu. Porém, você percebe que o mundo mudou muito. O que aquele homem pensaria ao ver as redes sociais dominar boa parte de suas horas? Será que ele próprio utilizaria streaming e aplicativos de banco?

Uns chamavam-no de senhor; outros, de velho ou coroa. Para o leitor que não teve um paizão presente na sua trajetória fica posta à mesa a reflexão: como você seria e como se desenrolaria sua vida, se Deus tivesse lhe dado outro pai, um de verdade?

Você abre o armário, tira da gaveta aquela caixa repleta de lembranças antigas e lá reconhece sua própria letra infantil, no cartão de presente amarelado, guardado com carinho por ele até o fim dos seus dias, e que o destino devolveu ao remetente: 'papai, te amo'.

Hoje, amigo, o pai é você. Seu jovem no espelho parece um pouco mais grisalho que o tolerável e tem na pele os vincos de alguma experiência. É o segundo domingo de agosto, o seu Dia. O presente não importa muito, desde que o seu filho esteja ao seu lado.

Indústria da pensão, discursos feministas vazios, injustiças institucionalizadas, negligência materna, escolas anacronicamente machistas. É o mundo do avesso. Mas nada o desanima. Você tem fibra, cumpre a missão. 

Comemore, guerreiro.