A interpretação da História pode ser distorcida à luz de ideologias que ostentam a ingrata pretensão de criar um mundo perfeito, mas o sol da verdade resplandece indisfarçavelmente.
Por mais que esperneiem os manifestantes, é fato: a escravidão foi abolida no Brasil por uma princesa loira, de olhos azuis e, de quebra, boa católica.
A celeuma merece ser superada. Todos somos iguais e o combate à discriminação é um direito universal, independentemente de cor de pele, origem étnica, posição social, capacidade econômica e credo religioso.
A promulgação da Lei Áurea é o epílogo de uma luta histórica da Princesa Isabel e seus ascendentes. Organizou bailes para arrecadar recursos, com que comprou centenas de alforrias.
Abrigou em seu palácio escravos judiados, concedeu pelo menos duas vezes a primeira dança a respeitáveis senhores ofendidos pelo preconceito e vendeu todas as suas joias pessoais em prol da causa libertária.
Sua campanha contra a escravidão contagiou os familiares. Em Petrópolis, os dois filhos pequenos de Dona Isabel editavam um jornal estudantil abolicionista.
A princesa foi também protetora e madrinha do Quilombo do Leblon. Foi com a pena de ouro presentada pelo líder dessa comunidade que ela assinou a inolvidável Lei Áurea.
Por seu notável ato cristão, Princesa Isabel ficou conhecida como 'A Redentora'. Mesmo assim, houve acerbos protestos contra a abolição. Em defesa, os capoeiristas criaram a Guarda Negra da Redentora.
A França quis presenteá-la com uma estátua. Isabel recusou. Pediu que homenageassem Jesus. Assim nasceu o cartão-postal brasileiro, o Cristo Redentor, vigilante no ponto mais alto do Rio, outro pedido dela.
Criticada pelo escravagista Barão de Cotegipe, pois seu gesto de bondade desencadeou como reação o fim da Monarquia, nossa heroína comentou piedosamente: "Se mil outros tronos eu tivesse, mil tronos eu perderia para pôr fim à escravidão!"
Os ébanos guardiães juraram dar a vida pela princesa. Com o Golpe Republicano, 120 deles foram deportados para Fernando de Noronha e exterminados pelo novo governo.
Discípula da igualmente abolicionista Condessa de Barral, Isabel almejava no Terceiro Reinado promover socialmente os libertos, mas seu sonho foi despertado pela favelização republicana.