Penhoro minha solidariedade ao brioso delegado federal Maurício Moscardi Grillo, atacado duramente na imprensa patrocinada pelos fabricantes de carne. O policial zeloso apenas cumpriu seu dever quando demonstrou preocupação com a segurança alimentar do povo, pois quase metade (21) dos 44 frigoríficos inspecionados apresentou adulteração de produtos.
Não pense o leitor que o problema está restrito à carne. Isso é apenas a ponta do iceberg. Temos ainda o excesso de agrotóxicos, a permissão a substâncias cancerígenas e até a adubação insalubre dos orgânicos (que muitos pensam ser a salvação da lavoura).
Além dos alimentos 'in natura' e na fabricação, ocorrem barbaridades no preparo de refeições oferecidas ao consumidor. Os restaurantes, por exemplo, sofrem com o despreparo dos cozinheiros. Em frente ao Shopping Center Jacareí, antes do almoço, eles se sentam na sarjeta para fumar, tirar meleca do nariz e usar a ponta dos caninos para limpar a sujeirinha embaixo das unhas. Se aos olhos do público agem assim, é mais repugnante ainda imaginar o que fazem ocultos nas cozinhas.
Nossa sorte é poder contar com uma pugnaz Vigilância Sanitária para fiscalizar a higiene afonsina de restaurantes, bares, lanchonetes e carrinhos de lanche. No entanto, o problema maior é o marmitex clandestino que prolifera em Jacareí, o que demandaria um trabalho especial.
Anos atrás, a casa vizinha ao Ministério Público sofreu uma estranha reforma sem placa, sem responsável. Tudo foi fechado, hermeticamente fechado - portas, entrada, janelas. A insalubre falta de circulação de ar teve logo explicação, pois ali se instalou uma central de marmitex. As paredes do fundo não receberam reboco, utensílios de cozinha secavam ao sol na laje, juntamente com roupas íntimas, e pombos ciscavam ali e acolá.
Para agravar, ouviam-se latidos de cães provindos do interior da casa. Seriam animais de estimação ou matéria-prima? Sei lá, como escreveu Caio Fernando Abreu, 'a carne é fraca, a alma é safada e o diabo ainda atenta'. Deve ser por isso que o esporte afonsino mais praticado depois do futebol e do cestobol é a compra em supermercado para uma boa refeição caseira. É realmente mais seguro.