Quem não aprecia muito os gatos costuma afirmar que felino não gosta do dono, mas sim da casa. Mito ou verdade? Preste atenção na história do gato Mil e tire suas próprias conclusões.
Ele foi assim batizado não por miar com algum erro ortográfico, mas por ser um bicho de estimação que vale por si e mais novecentos e noventa e nove.
Foi adotado filhote, após seu dono, o motorista Cláudio, alugar seu caminhão, sair de Jacareí e desembarcar em Santa Fé do Sul como caseiro de um idílico sítio, situado à margem da represa que abastece aquela longínqua cidade.
Passados três anos, Cláudio cansou-se da vida tranquila de homem do campo, resolveu retomar a carga pesada e voltar para Jacareí. Entretanto, a mudança programada atrasou porque o gato Mil fugiu para o mato na hora da partida, recusando-se a deixar a propriedade rural.
O dono, desconsolado, teve de regressar para sua cidade sem o animalzinho e, desde então, não teve paz de espírito. Sofreu muito e passou dois meses sem dormir direito, pois acordava de madrugada preocupado com o bichano.
Então, quando arrumou um carregamento para entregar em Araraquara, não teve dúvida - atendendo a um sexto sentido, esticou o caminho mais 350 km por sua conta e risco até Santa Fé para tentar resgatar Mil.
Chegou ao fim da tarde e pediu informação para um caboclo de chapéu de palha, acocorado ao pé duma porteira. Descreveu a pelagem do gato e o caipira respondeu tê-lo visto na outra margem da lagoa, mas que o bicho era arisco e não deixava ninguém chegar perto.
Cláudio seguiu na direção apontada, na confiança de que com ele Mil viria. Estacionou num descampado, desceu da boleia e começou a chamar com miados seu amigo saudoso.
Mil veio de dentro de um cano, todo sujo, em sua direção. Estava tão magro, só pele e osso, uma sombra irreconhecível. O homenzarrão chorou pelo sofrimento do gato rajado, que pulou com saudade no colo do amigo.
Em Jacareí, Mil adaptou-se perfeitamente ao novo lar e virou para sempre um gato dócil, apegado, feliz.