A intolerância religiosa é filha do fanatismo e espalha atitudes sectárias destrutivas. Infelizmente, nem o povo ordeiro de Jacareí está a salvo do problema, que põe em risco valores civilizatórios fundamentais.
Existem ao menos três espécies de intolerância religiosa, e não somente a exercida contra credos minoritários, como comumente se imagina.
Os opressores costumam se referir aos fiéis com expressões pejorativas, como chamar de 'crentes' os protestantes (em voga décadas atrás, mas que caiu em desuso com o crescimento evangélico).
Atualmente, os que mais padecem com essa discriminação são os seguidores das crenças de raiz africana, que recebem a pecha social de 'macumbeiros'. Sofrem literalmente na pele, pois subjaz também um componente racial.
A segunda modalidade de intolerância é praticada pelos ímpios contra as igrejas prevalecentes. Estão aí a moralidade cristã e os valores familiares bombardeados diariamente pela ideologia libertina mostrada nas novelas e programas de tevê.
Outra forma é a intolerância praticada pelos ministros contra o próprio fiel, muito comum em nações islâmicas de extremo subdesenvolvimento, que mesclam à religião interesses políticos e sede de poder, com aniquilamento dos verdadeiros direitos humanos e jugo da população mais humilde.
Inestimável o prejuízo social causado pelos arautos do atraso e da obscuridade. Na França, por exemplo, o voto feminino só foi permitido a partir de 1945 por uma questão de intolerância religiosa: temiam infundadamente as autoridades que o catolicismo fervoroso das gaulesas influenciasse a opção de escolha no exercício do sufrágio.
Aqui mesmo, na sesmaria de Antônio Afonso, enquanto não se implantou o Estado laico, no antigo e único cemitério da época (hoje soterrado por uma padaria na Rua Barão), só tinha direito ao digno sepultamento quem professasse a religião governamental.
A desconstrução dos dogmas religiosos e a moderna falta de espiritualidade foram ingredientes fundamentais para o caos de corrupção, violência, desrespeito ao próximo e desprezo à vida que se instalou no Brasil.
A liberdade religiosa só não deve ser absoluta diante dos indispensáveis limites legais. Cultos e oferendas protegidos de depredadores, sim. Poluição sonora, contaminação das águas, sacrifício de animais e sujar os espaços públicos, jamais.