Pior que a pandemia são as sequelas que ficaram e continuarão mesmo na volta à normalidade – isto se ela de fato acontecer – entenda-se. Uma das piores deformações é o dano psicológico em pessoas de todas as idades acostumadas a um mínimo de liberdades.

Quem faz esses comentários é o filho brilhante João Azeredo Silva Neto, psicólogo e psicanalista, radicado em Jacareí há mais de 40 anos. Numa análise mínima da Covid-19 no planeta, ele confirma que ela atingiu em cheio sua área de trabalho e aumentou o número de pacientes que falam em dar cabo da vida.

Esses comentários vêm a propósito do 'Setembro Amarelo', mês da prevenção que abriga o dia 10, também tido desde 2003 como 'Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio'. Numa explicação básica Azeredo diz que o ser humano tende a 'caminhar para frente' em tempos normais. Com a pandemia todos fomos obrigados a 'andar para trás' de um momento para outro, sem oportunidades de uma transição ao novo jeito de viver.

As pessoas já sofriam com a corrida tecnológica que não conseguiam acompanhar. 'Em pouco mais de uma geração, fomos do carro de bois ao jato supersônico; do telégrafo ao celular de alta performance', explica.

Em paralelo, surgiu uma geração acostumada a ter tudo o que pede quando 'bate o pé e choraminga'. Por sua vez, os mais idosos tiveram de adaptar-se à nova tecnologia de lidar com a internet, caixas eletrônicos e comunicações internacionais imediatas. As exigências da Covid19 foram a gota d'agua.

Azeredo confirma que é comum no consultório pacientes que o procuram falando em desistir da própria vida ou entregues à prática da automutilação. 'E preciso urgente desligarmos a chave-geral da correria e adaptarmo-nos com cautela à nova realidade; aos poucos, irmos nos adequando à tecnologia sem ultrapassar o limite do suportável. 'Principalmente nossas crianças precisam do maior apoio para um desenvolvimento sadio', recomenda.