Estavam três pessoas numa das salas de atendimento do Procon de Jacareí: o funcionário e mais duas litigantes em determinada transação comercial; era década de 1990. Aguardavam a chegada do Promotor da Defesa do Consumidor que ali comparecia às quartas-feiras para os casos mais complexos.

Logo ele chegou. Mesmo assim e fez questão de justificar o pequeno atraso: 'Desculpem-me, três pessoas amigas me pararam na rua, ali próximo, com um caso intrincado, e eu não tive como deixar de atendê-las, pois estavam com pressa...'

Ao perguntarem por que não foram todos ao Procon, a resposta surpreendeu: 'Não haveria tempo', retrucou o promotor: 'elas já estavam sendo aguardadas no Plano Espiritual', explicou.

Esse era o dia-a-dia do promotor de Justiça Nelson Garcia Rosado que nos deixou no último sábado, (19), e foi-se também para o mesmo Plano.

No atendimento que se seguiu naquela quarta-feira do século passado, o caso igualmente foi resolvido rápida e tecnicamente, mas também com espírito cristão evocado entre as partes sem que isto fosse explicado. Era comum Rosado chegar logo às soluções e depois dedicar um tempo maior ao aconselhamento; 'muitas vezes a origem da contenda é mais profunda e nada tem a ver com a compra e venda de um produto', sempre explicava aos do Procon.

Rosado era o 'Pai dos Pobres'. No Fórum de Jacareí, a sala de espera onde atendia lotava de gente humilde à espera de uma palavra de consolo, uma ajuda financeira sua ou de terceiros, ou um encaminhamento da Justiça.

'Certa vez deu a um necessitado o próprio relógio de pulso para que ele 'o transformasse em dinheiro' para comprar comida' conta o colega promotor José Luiz Bednarski. Segundo este, o longo tempo que Rosado esteve na promotoria, em Jacareí (23 anos), explica-se pelas características da cidade – antiga, histórica, tipo da maioria da população...

Que o 'Doutor Pai dos Pobres' seja bem recebido 'no outro plano'.