Reflexo de Evolução ou Alerta Educacional?
O crescimento do EAD no país exige das instituições de ensino superior uma revisão estratégica.
O Brasil acaba de registrar um marco inédito: pela primeira vez, o número de estudantes matriculados em cursos de graduação a distância (EAD) superou o de alunos em cursos presenciais. Segundo o Censo da Educação Superior de 2024, 50,7% dos 10,2 milhões de universitários estão no EAD. A modalidade cresceu 286% em uma década, enquanto o ensino presencial encolheu 22%.
Esse fenômeno não é apenas estatístico — é sintomático. Ele revela uma transformação profunda no perfil da educação superior brasileira, impulsionada por fatores como flexibilidade, custo reduzido, maior oferta de cursos.
O EAD ampliou o acesso ao ensino superior, especialmente para estudantes de regiões afastadas ou com rotinas incompatíveis com o modelo tradicional. Isso é um ganho inegável. No entanto, a concentração de 95% das matrículas em instituições privadas e o aumento da evasão nos cursos à distância levantam dúvidas sobre a qualidade e a permanência dos alunos.
A democratização do acesso não pode vir desacompanhada de garantias de formação sólida. Cursos como Medicina, Direito e Psicologia, por exemplo, foram vetados no formato 100% remoto pelo MEC, justamente por exigirem práticas presenciais essenciais.
O crescimento do EAD exige das instituições de ensino superior uma revisão estratégica. O ensino presencial não está obsoleto — ele precisa se reinventar. Laboratórios de ponta, metodologias ativas, experiências práticas e networking são diferenciais que o ambiente físico ainda oferece com excelência.
Já o EAD precisa superar o estigma da superficialidade. Investir em tutoria qualificada, plataformas robustas, avaliações consistentes e integração com o mercado são caminhos para consolidar sua legitimidade.
O avanço do EAD é um reflexo da evolução tecnológica e da necessidade de adaptação social. Mas não pode ser interpretado como substituição pura e simples do presencial. É preciso equilíbrio, regulação e compromisso com a qualidade.
A educação não é apenas transmissão de conteúdo — é formação humana. E isso exige mais do que conexão à internet: exige conexão com o mundo real.
É a nossa opinião.
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