Se em 'Sétimo Selo' (1957, de Ingmar Bergman), o personagem Antonius (Max Von Sydow) joga xadrez com a Morte (Bengt Ekerot) para tentar adiar o seu fim, no 'Meu Vizinho Adolf' (2022, Prime), Marek Polsky (David Hayman) joga xadrez com... Hitler! Bom, isto é o que Marek, ex-jogador profissional da modalidade, pensa.

A trama, dirigida por Leon Prudovsky, se passa em maio de 1960 (há passagem de 26 anos no tempo – a fita começa em 1934). Rabugento, beirando os 70, o enxadrista é judeu-polonês sobrevivente do Holocausto. Perdeu a família nos campos de concentração. Vive sozinho no interior da Colômbia, aonde fugiu. Rotina: cuidar ferozmente da pequena plantação de rosas pretas, que o faz recordar da esposa, e praticar o esporte predileto, no tabuleiro. Um dia, após o assassino nazista Adolf Eichmann ser sequestrado na Argentina por agentes do Mossad (organização militar palestina), um misterioso alemão (Udo Kier), idoso tal qual Marek e chamado pelos outros de Herzog, se muda à casa ao lado da dele.

Quando ficam cara a cara, o viúvo não tem dúvida: o vizinho é ninguém menos que Hitler. No caso, o líder alemão fingira suicídio, mudara a fisionomia, escapara à América do Sul. Todas as características de personalidade estão ali: gosta de pastor alemão, sabe pintar, as visitas o cumprimentam com saudação nazista. 'O olhar não me engana', reflete Marek, que procura a embaixada para revelar a descoberta. Ninguém crê nele, o que o deixa apavorado, desesperado.

O longa é divertido do começo ao fim. Deve a qualidade às interpretações da dupla protagonista. Curiosamente, alguns devem se lembrar, nas décadas de 1960-70 existiu teoria de que o 'führer' tinha se mudado de mala e cuia à Argentina, driblando soviéticos, ingleses, americanos. A tese, que há 2 ou 3 anos voltou a ser espalhada, informava: CIA e FBI investigaram a possibilidade. Havia até 'fotos' de Hitler um pouco mais velho. Duração: 96 minutos. Cotação: bom.