Laudo técnico revela falhas estruturais em adutora que deixou Jacareí sem água
Documento destaca falhas no projeto e divergências na execução da adutora, iniciada em 2005 e concluída em 2009.
Após dois episódios de seguidos rompimentos da adutora Altos de Santana, ocorridos nos dias 9 e 20 de junho, em trechos distintos da Avenida Davi Lino, ao lado do Parque da Cidade, o SAAE de Jacareí -Serviço Autônomo de Água e Esgoto - anunciou nesta sexta-feira (21) a conclusão de análise técnica da estrutura do equipamento e suas causas.
O documento, elaborado por engenheiros de carreira da autarquia, destaca falhas no projeto e divergências na execução das obras de implantação da adutora, iniciada em 2005 e concluída em 2009 (ler abaixo).
O reparo na adutora foi concluído durante a madrugada de hoje (21). O SAAE realiza agora descargas na rede em alguns pontos da cidade (não é vazamento) para limpeza das tubulações e coleta de amostras para garantir a qualidade da água.
De acordo com a autarquia, ainda durante a manhã desta sexta-feira (21), o fornecimento de água foi reaberto, "mas a normalização da distribuição irá ocorrer de forma gradativa ao longo do dia, podendo ainda apresentar oscilações e baixa pressão em alguns bairros mais distantes", explica.
O LAUDO
O documento, elaborado por engenheiros de carreira da autarquia, destaca falhas no projeto e divergências na execução das obras de implantação da adutora, iniciada em 2005 e concluída entre 2009.
O laudo revela que a troca entre ferro fundido e fibra de vidro criou pontos de fragilidade na estrutura. O projeto básico original previa a construção da adutora com tubos de ferro fundido e a instalação de nove válvulas de alívio de pressão. "Contudo, modificações feitas pela gestão municipal da época alteraram materiais previstos na licitação, substituindo parte do ferro fundido por fibra de vidro, especialmente entre a Rua Alzira Salles e a Praça Charles Gates", informa em nota.
Segundo o SAAE, as seguidas alternâncias de tubulações resultaram em áreas propensas a falhas, especialmente sob variações de pressão. "Essa transição irregular, conforme detalhado no relatório, aumentou a vulnerabilidade da rede", relata.
O estudo também identificou a ausência de válvulas essenciais para a operação segura da adutora. O projeto básico previa nove válvulas de alívio de pressão, enquanto o projeto executivo indicava oito. "No entanto, foram encontradas apenas quatro válvulas, além da ausência da válvula quebra-vácuo, necessária no trecho mais alto da adutora", explica. De acordo com a autarquia, esses dispositivos são fundamentais para atenuar os chamados 'golpes de ariete', que são impactos súbitos causados pela presença de ar na tubulação, comprometendo a estabilidade e aumentando o risco de rompimentos.
O relatório apresentado pelo SAAE também menciona problemas adicionais, como os aterros realizados pela Prefeitura Municipal na conclusão do Parque da Cidade. "Esse excesso de carga sobre a tubulação, composta por materiais diferentes, gerou fissuras e lacunas, criando pontos de tensão na adutora", afirma o documento.
Sindicância irá investigar responsabilidades
quanto à obra e medidas para evitar riscos
O SAAE Jacareí informa que o resultado dessa análise técnica motivou ainda a abertura de uma sindicância interna para investigar responsabilidades quanto à obra da adutora e está tomando medidas imediatas para mitigar riscos futuros. A autarquia responsável pelo serviço de água e esgoto em Jacareí irá contratar uma empresa especializada para realizar um Estudo de Transiente Hidráulico, que irá fornecer soluções detalhadas para recuperação do trecho da adutora e prevenir novos rompimentos.
"A combinação de escolhas materiais inadequadas, a falta de dispositivos de segurança e a pressão externa adicional dos aterros resultaram em um trecho da adutora extremamente vulnerável", afirma o presidente do SAAE, Eder Campos. Ele diz ainda que a autarquia está desenvolvendo um projeto de 'by-pass' para garantir a segurança hídrica da região leste de Jacareí, "oferecendo uma alternativa eficiente caso a adutora precise ser desativada para correções ou em definitivo", finaliza.
OUTRO LADO
O Diário de Jacareí procurou os ex-prefeitos Marco Aurélio e Hamilton Mota, que administraram a cidade entre os anos de 2005 e 2009, período citado na matéria em questão como sendo o de construção da adutora sob a Avenida Dani Lino.
Em nota, informaram que Renan Alves – atualmente proprietário de uma empresa que presta consultoria para a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) – era o presidente do SAAE à época da construção da adutora Altos de Santana. Ele afirmou que o material utilizado na obra estava totalmente de acordo com as determinações da Sabesp, e que a obra foi aprovada pelo órgão estadual, como exigência para sua entrada em funcionamento.
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