Falar de Carnaval em plena Quaresma é preciso ter motivo muito forte; e temos. Comentar o toró que vem desabando país a fora parece literalmente chover no molhado. Em Jacareí seria 'literariamente chover no molhado'. Tal como deixar um bom livro na estante durante anos à espera de ser lido e seguido em suas regras de sabedoria – 'um livro fechado é amigo que espera', disse o filósofo Rabindranath Tagore; e como 'espera' no Brasil!

O transtorno da semana foi tragédia sobejamente anunciada. Estava 'mais do que escrito' que em Jacareí também choveria, mais forte que em vezes anteriores e semelhante a outras cidades; simples assim. Era questão de tempo. Até mesmo a exceção no domingo de Carnaval, que permitiu o sucesso do desfile das escolas, teve uma lição que pareceu escrita em livro. Mas ninguém percebeu que a rápida estiagem tenha sido outro lembrete simbólico disfarçado na letra do samba-enredo da 'Unidos do Álcool', escola campeã. Mais um recado às cerca de 20 mil pessoas na Avenida Davi Lino: 'Acima de Deus, Nada; abaixo de Deus, Água' (matéria nesta edição). Sim, o sentido era outro, mas também estava ali 'escrito direito por linhas tortas' o que viria logo depois.

Apresentação das mais bonitas, organizadas e concorridas de Jacareí, entretanto, alegrias à parte, era urgente lembrar à multidão o que acontece quando ao longo do tempo age-se diferentemente no essencial. Resultado: cerca de 60 bairros castigados, 200 pessoas desabrigadas, casas desabando, outras sob risco da mesma consequência, o Rio Paraíba perto de seu perigoso limite de alerta e sabe-se lá que está por vir?

Resta-nos a esperança em dias melhores e que todos contribuamos para isso no que compete a cada um. 'Compreendemos mal o mundo e depois dizemos que ele nos decepciona', sentencia o mesmo filósofo Tagore citado acima.

É a nossa opinião.