O maior escritor infanto-juvenil de todos os tempos nasceu e viveu na nossa região. Embora seja patrono de ruas, praças, bibliotecas e tenha virado até nome de município, certo é que sua vida, obra e exemplo andam meio esquecidos na poeira do tempo.

Nascido no final do século retrasado e formado em Direito pela faculdade do Largo de São Francisco, o primeiro emprego de Monteiro Lobato foi de promotor público, cargo que à época era provido mediante nomeação, não por concurso.

Contudo, não lhe aprouvera e, de espírito irrequieto, perfil pioneiro e americanófilo, enveredou para o ramo empresarial. Entusiasmado pela exploração de petróleo em terras brasileiras, chegou a escrever um livro a respeito, para as crianças – O Poço do Visconde.

Sua obra adulta também é de relevo e elegância, sobretudo na seara dos contos. Porém ninguém o supera no imaginário infantil, com a coleção do Sítio do Pica-Pau Amarelo, em que Emília representa o próprio autor a brincar com os leitores de todas as idades.

Pelo bom-senso de se recusar a acompanhar os filhinhos de papai e modernetes na cafona Semana de 22, caiu em desgraça nas bocarras lacradoras. É acusado de racismo por quem, na verdade, nunca o leu. Nas bibliotecas escolares, seus tomos andam relegados à solidão das prateleiras.

Fundou a primeira editora do país. Antes dele, os livros de escritores brasileiros tinham de ser impressos em Portugal. Só esse miliário civilizatório já faz dele um indiscutível herói patriota. Afinal, com razão escreveu que 'um país se faz com homens e livros'.

Saudoso, abandonou o próprio nome (José Renato) e adotou o de seu pai falecido (José Bento), em honra à memória de seu admirado ascendente.

Lição maior de humildade deixou na velhice. Depois de várias candidaturas infrutíferas ao longo da vida, foi convidado a ingressar na Academia Brasileira de Letras. Todavia, já despojado de vaidades, agradeceu comovido a homenagem e declinou da proposta.