Segunda, 25 Novembro 2024

Apneia do Sono pode atingir cerca de 87% da população idosa, diz pesquisa

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Apneia do Sono pode atingir cerca de 87% da população idosa, diz pesquisa

Cerca de 60,2% dos idosos entre 60 e 69 anos têm a doença; números aumentam entre 70 e 80 anos.  

De acordo com a idade, a fisiologia do sono é afetada pelo envelhecimento. Foto- Envato Elementes/Divulgação

Os distúrbios do sono estão entre os problemas mais comuns em idosos, estando a Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) em primeiro lugar. De acordo com o Episono - Estudo Epidemiológico do Sono de São Paulo, cerca de 60,2% dos idosos entre 60 e 69 anos apresentam a doença, com números que aumentam para 86,9% entre idosos na faixa de 70 e 80 anos.

Dr. Lucas Vaz Padial, otorrinolaringologista com atuação em Medicina do Sono no Hospital Paulista (região da Vila Mariana, em São Paulo), explica que o fato ocorre porque a idade está entre os fatores de risco à apneia do sono, bem como para distúrbios menos prevalentes, mas que também apresentam relevância epidemiológica em idades mais avançadas.

"Entre eles podemos citar os distúrbios de movimento do sono, como a Síndrome das Pernas Inquietas, e os comportamentais REM, que podem coexistir ou preceder o diagnóstico de doenças neurodegenerativas, entre elas o Parkinson", afirma.

Conforme o especialista, tanto os parâmetros como a arquitetura do sono sofrem alterações de acordo com a faixa etária. Dessa forma, a própria fisiologia do sono é afetada pelo envelhecimento.

"Idosos costumam ter um tempo de sono menor, além de, em média, irem dormir mais cedo. Somado a isso, comorbidades clínicas e psiquiátricas, uso de substâncias e os próprios distúrbios do sono podem mediar negativamente esta fisiologia", ressalta.

Segundo o médico, prováveis processos neurodegenerativos do próprio envelhecimento podem alterar os núcleos cerebrais, gerando maior dificuldade em manter um sono prolongado, contínuo e reparador. Somados às alterações circadianas da idade, entre elas a variação da temperatura corporal e os níveis de melatonina no sangue, a sensação é intensificada.

Para a apneia do sono, o principal mecanismo que justifica a alta prevalência é o aumento da chance de colapsar a faringe - fechá-la enquanto dorme -, seja por fraqueza muscular ou pelo aumento de gordura na região do pescoço e da língua.

IDENTIFICAÇÃO
Para identificar possíveis distúrbios do sono em idosos, é importante que as pessoas estejam atentas aos sintomas que começam a surgir precocemente. Entre os mais relevantes estão a sonolência excessiva durante o dia, necessitando de cochilos frequentes e/ou prolongados no decorrer da tarde. "Despertar, muitas vezes, durante a noite, seja para beber água ou ir ao banheiro, também pode ser um sinal de alerta", orienta o médico.

Segundo Dr. Lucas, por conta desta fragmentação, é comum a sensação de sono insuficiente e não reparador, compensado pelos cochilos excessivos durante o dia. "Isso diminui a 'pressão de sono' e o idoso novamente fica sem sono durante a noite, repetindo o processo sucessivamente."

Em alguns casos, a sonolência pode não chamar a atenção, mas é importante ficar atento a sinais como alterações de memória e atenção recentes; transtornos de humor; aumento da frequência de idas ao banheiro, fazendo, muitas vezes, com que o idoso urine na cama; e sensações desagradáveis nas pernas, com necessidade de movimentá-las, bem como movimentos físicos bruscos e agressivos durante algum sonho.

Atividade física auxilia como
intervenção não farmacológica

O médico Lucas Vaz Padial, otorrinolaringologista com atuação em Medicina do Sono no Hospital Paulista, destaca que a prática de atividade física regular, de preferência diária, é a principal intervenção não farmacológica que leva a uma melhor percepção de sono em qualquer idoso e distúrbio.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a prática de, ao menos, 150 minutos de atividade física moderada por semana, como caminhadas. "Idosos que aderiram à recomendação apresentaram menores probabilidades de desenvolver os sintomas de insônia", reitera o especialista. No entanto, ele alerta à carência de atividade mental de estímulos da percepção cognitiva, como leituras, que pode impactar negativamente a qualidade do sono.

"A própria superproteção de familiares e cuidadores gera um estado persistente de restrição ambiental, prejudicando o desenvolvimento de uma rotina de interação social, exposição à luz e marcadores circadianos, fatores significantes para um sono restaurador."

TRATAMENTOS
Os tratamentos para os distúrbios do sono dividem-se em intervenções gerais e específicas, de acordo com cada problema.

As intervenções gerais trabalham o contexto de hábitos de vida e higiene do sono, apontados acima, enquanto as específicas podem depender de uma avaliação médica criteriosa.

Entre as alternativas possíveis estão a terapia cognitivo comportamental (TCC), que auxilia no tratamento da insônia; exposição à luz artificial, em casos nos quais o contexto clínico não permite contato com luz natural; terapia farmacológica; e uso do CPAP, pequeno aparelho compressor de ar silencioso, utilizado no tratamento para apneia do sono.

"Se você conhece algum idoso que apresente sintomas e sente que isso impacta sua qualidade de vida, é de grande importância o agendamento de uma consulta médica. Assim, podemos, em conjunto, trabalhar as formas de tratamento e trazer conforto e benefícios para uma etapa tão importante da vida humana, que é o sono", finaliza o especialista.

DIAGNÓSTICO
Para diagnóstico e tratamento dos distúrbios do sono (apneia, ronco, insônia, bruxismo, entre outros), é indicado exame de polissonografia, que avalia a qualidade do sono e mede a atividade respiratória, muscular e cerebral.

A polissonografia consiste no registro das variáveis fisiológicas durante o sono, como atividade elétrica cerebral, movimento dos olhos, tônus muscular, fluxo de ar oral e nasal, esforço respiratório, movimentos de pernas e oxigenação do sangue (oximetria).

No Hospital Paulista, o exame é realizado por técnicos e fisioterapeutas com certificado em polissonografia e exames com CPAP ou BIPAP, além de equipes médica e de enfermagem, para suporte total ao paciente.

 

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