Diretor, roteirista e produtor, Robert Wise (1914-2005) queria ser jornalista na adolescência. A chamada 'Grande Depressão' iniciada pela quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, no fim de 1929, cancelou o plano. Foi parar na RKO Pictures, distribuidora de filmes fundada em 1928, com a função de carregador de latas de películas.

Lá, virou montador de som e, logo depois, editor de longas. Já em 1940, exerceu a tarefa em 'Cidadão Kane'. Estreou na direção em 'Soberba' (1942), com o mesmo Orson Welles de 'Kane'. Três anos mais tarde, rodou 'O Túmulo Vazio', com Boris Karloff e Bela Lugosi (na íntegra no youtube), além de Henry Daniel, que havia participado de 'O Grande Ditador' (1940), de Chaplin.

A história se passa em 1831, em Edimburgo, capital da Escócia. O médico MacFarlane (Daniel) leciona e, para isso, usa corpos afanados do cemitério. O serviço sujo é feito por Gray (Karloff), sombrio cocheiro de relações passadas com o doutor. Quando Fettes (Russell Wades), jovem estudante, é cooptado por Farlane a ser seu auxiliar, o esquema degringola, ainda que Fettes se sujeite ao trabalho tenebroso do sumiço dos falecidos com o objetivo de salvar uma garota paralítica, cuja cirurgia delicada será feita pelo professor.

Lugosi é mero coadjuvante. Interpreta Joseph, ajudante de MacFarlane, testemunha dos crimes. 'O Túmulo Vazio' serviu para Wise tatear na direção. As atuações de Karloff e Daniel sustentam a trama. O novato diretor (que anos depois regeu 'Amor, Sublime Amor', 1961, e 'A Noviça Rebelde', 1965) segurou a onda no comando da história, baseada em fatos: em 1828, a Escócia se espantou diante dos homicídios de Wiliam Burke e William Hare.

Mataram 16 em Edimburgo e venderam os cadáveres à escola de medicina. Os crimes, célebres pela crueldade e impacto nos estudos anatômicos, chamaram a atenção da opinião pública acerca da necessidade da dissecação de mortos ao avanço da medicina e órgãos reguladores que legislassem a questão, extinguindo a prática de roubo de túmulos.

Inspirou obras de ficção, como o conto 'Ladrão de Cadáveres', de Robert Stevenson. Val Lewton adaptou-o ao cinema. Dilemas morais temperam o script. Duração: 77 minutos. Cotação: bom.