Em 'A Garota Ideal' (2007, Prime), 2º filme dirigido por Craig Gillespie (conhecido mundialmente 10 anos depois pelo ótimo 'Eu, Tonya'), Lars (Ryan Gosling), acanhado, pacato, recluso, de repente apresenta à família a namorada, que conheceu pela internet: Bianca. Segundo Lars, ela tem ascendência brasileira e dinamarquesa, é missionária e cadeirante. Há um porém: trata-se de uma boneca, comprada pela internet.

Descobrimos depois que o rapaz carrega traumas familiares – a mãe morreu no parto, o pai se distanciou depois disso e o irmão mais velho, Gus (Paul Schneider), assim que consegue se sustentar, também pica a mula. Os irmãos herdam a propriedade da família quando o pai falece. Gus se sente culpado pela situação do mano e costuma pedir à esposa, Karin (Emily Mortimer), grávida, a convidar Lars a participar do convívio social – ele sempre dá uma desculpa e recusa.O casal mora na casa principal. O caçula, na garagem reformada. No escritório onde trabalha, o tímido é constantemente paquerado por Margô (Kelli Garner). Ignora as investidas da coitada.

Ao 'introduzir' Bianca entre os poucos amigos e parentes, o que à primeira vista é alvo de chacotas se transforma em grave preocupação com a saúde mental do sujeito. Dagmar (Patricia Clarkson), psicóloga, começa a questionar as atitudes do paciente, dando a desculpa de que Bianca está doente e precisa de cuidados. A população local se apieda com a situação de Lars e convive com a boneca como se real ela fosse.

'A Garota Ideal' foi mal nas bilheterias, mas agradou os críticos pelo enredo estranho e terno, espécie de adaptação livre, do lado cômico-dramático, da mitologia grega de Pigmalião, escultor que se apaixona por sua estátua de marfim (se casa com ela, transformada em mulher sob bênção de Afrodite – têm uma filha). Recebeu indicação ao Oscar de roteiro original – Nancy Oliver, que estreava no ramo (Diablo Cody, por 'Juno', venceu). Gosling também merecia ser indicado. Duração: 106 minutos. Cotação: bom.