Imitação sem engano
O filme me pegou pelas reviravoltas, malucas ou não, que dão giros de 180, 360 e 720 graus, do tanto que muda no terço final.
À primeira vista, 'A Mulher na Janela' (2020, Netflix) passa o recado de ser cópia sem-vergonha de 'Janela Indiscreta' (1954), clássico de Alfred Hitchcock. Nos primeiros minutos, pensei até em 'A Garota do Trem' (2016) e 'Os Outros' (2001). Estava enganado.
O filme dirigido por Joe Wright me pegou pelas reviravoltas, malucas ou não, que dão giros de 180, 360 e 720 graus, do tanto que muda no terço final. Nada é o que parece. Na história, Anna (Amy Adams) é psicóloga há 15 anos e é agorafóbica, ou seja, tem medo de sair de casa. No caso dela, casarão de 3 andares (a imagem da escada em funil, usada a esmo desde 'Um Corpo de Cai', 1958, também de Hitchcock, está presente), cujo porão é alugado a David (Wyatt Russell), sujeito esquisito.
Ela toma remédios tarja-preta e os engole com bebida alcoólica, está 'separada' do marido, que ficou com a filha pequena. A moça passa o tempo vendo fitas antigas, dormindo (tem, de vez em quando, pesadelos, alucinações), conversando com amigos virtuais e espionando vizinhos (como o fotógrafo L. B. Jefferies, personagem de James Stewart com a perna quebrada do já citado 'Janela Indiscreta'). Quando a família Russell se muda bem em frente à sua casa, a rotina de Anna é abalada quando testemunha o assassinato de Jane (Julianne Moore). O autor é o marido, o agressivo Alistair (Gary Oldman)? Será David? O filho dos Russell, Ethan (Fred Hechinger), se torna amigo da protagonista, busca refúgio.
O jogo proposto pelo roteiro de Tracy Letts é saber o que é verdade e o que é delírio de Anna. Sim, sei que você já assistiu a longas-metragens com este teor, mas é sempre interessante investigar quem são os culpados dos crimes, mesmo que o desfecho soe como número de circo: um malabarismo atrás do outro para encaixar o quebra-cabeça. Para tanto, as peças precisam colaborar. Neste caso, por conta do elenco forte, dão conta do recado. Adams está irreconhecível na pele da mulher 'largada' com roupas largas e cabelos amassados, e Moore e Oldman entregam bom trabalho ao público, sem comprometer. Duração: 101 minutos. Cotação: regular.
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