Gene Hackman, morto há 4 meses, aos 95 anos, com esposa e um dos cachorros, nas circunstâncias horríveis que hoje sabemos, era colega meu. Modo de dizer. Na década de 1950, estudou Jornalismo. Serviu a Marinha dos EUA nesta época, como fuzileiro naval. Nas artes, começou 'tarde', quase quarentão, no mesmo teatro aonde Dustin Hoffman encenou as primeiras peças. O jornal 'The Guardian', lá atrás, citou a dupla como a que menor chance tinha de fazer sucesso futuramente, vejam vocês.

A 1ª indicação ao Oscar veio logo, 3 anos após iniciar, por 'Bonnie e Clyde' (1967). Não demorou também a vir a 1ª estatueta: o estupendo 'Operação França' (1971), escolhido pelo próprio Hackman como seu melhor desempenho. 1992, 2ª premiação – coadjuvante, por 'Os Imperdoáveis', de Clint Eastwood, outra atuação suprema. No total, mais de 100 obras só no cinema. O derradeiro, 'Uma Eleição Muito Atrapalhada' (2004), não deixou saudade. Em 2008 anunciou aposentadoria. Alegou 'não querer ter mais estresse'. 

Para mim, claro, o trabalho mais marcante será para sempre o debochado-irônico vilão Lex Luthor dos 3 'Superman' que participou: 1978, 1980, 1987. No de 1983, por divergências com o diretor Richard Lester, ficou fora. No 2º, praticamente 100% das filmagens tiveram de ser refeitas, depois de Richard Donner, o diretor original, ser demitido de maneira polêmica, substituído exatamente por Lester.

Com Donner, Hackman teve história engraçada dos bastidores do Homem de Aço. Ao topar o convite, o diretor avisou-o: teria de raspar seu famoso bigode. Hackman recusou, afinal, era uma de suas marcas, tal qual César Romero. Donner propôs: 'tiro o meu e você, o seu'. Hackman cedeu. No dia combinado, surgiu sem pelos e cobrou o diretor, com o bigodão embaixo do nariz. Donner fez a 'mágica': arrancou o apetrecho com a mão – era postiço, estava colado. Em 2011, perguntaram como desejava que resumissem sua vida após a morte. Não titubeou: 'Ele tentou.' Eu o corrigiria: 'Ele conseguiu.'