'... anda em tudo um resquício'
Por meio da internet se deu a multiplicação da direita, pois só ali tinha espaço para ela.
Sigo comentando o documentário 'Nem Tudo se Desfaz', de Josias Teófilo. A 'nova classe média' de que o PT se orgulhava de ter 'criado' se voltou contra a sigla. A massa mudou de feição: não era mais a porção física, das multidões, mas redes sociais-digitais, que explodiram.
Aí que emerge, sob total comando involuntário de Olavo de Carvalho, a 'Nova Direita'. Vieram memes, replicações, linchamentos pela internet, enfim, a popularização praticamente instantânea da ridicularização de políticos, jornalistas e 'filósofos', como Márcia Tiburi, que via 'lógica no assalto' e Marilena Chauí, que 'odeia a classe média'.
Por meio da internet se deu a multiplicação da direita, pois só ali tinha espaço para ela. Ideias conservadoras e liberais estavam, em sua maioria, naquele local.
A comparação de Bolsonaro com o 'Homem do Subsolo', de Dostoievski, foi outro acerto do filme: marginalizado, desacreditado, tido como 'adversário ideal' em qualquer pleito (a fala de Reinaldo Azevedo é 'profética': 'Não tem chance alguma'), fez desmilinguir a 'Normalidade Democrática', confronto combinado entre PT-PSDB (pesquisem por 'Teatro das Tesouras').
O preenchimento dessa carência conservadora supriu o eleitorado direitista. Como disse Paulo Guedes: 'A socialdemocracia corrompeu a democracia e estagnou a economia.' Na convulsão social, toda a raiva guardada pela corrupção, deturpação de valores morais, má influência de professores (sobretudo universitários), foi pelo mesmo funil: despejou-se num único 'personagem': o atual presidente, tido como 'homem solitário que batalhou contra o sistema'.
Um dos entrevistados, Steve Bannon, ex-estrategista do governo Trump, equipara Bolsonaro a um destemido, por enfrentar 'tudo sozinho'. A facada é ponto crucial à compreensão. Carlos Bolsonaro dá depoimento emocionante. 'Nem Tudo se Desfaz' é permeado por cenas de filmes clássicos, das décadas de 1910-30, como 'Madame Bovary' (1919), 'Os Nibelungos' (1924), 'O Fantasma da Ópera' (1925).
Tal qual 'Jardim das Aflições', o documentário quase não teve publicidade na 'grande mídia', espiral do silêncio conhecida. Isso não prejudicou a repercussão. A frase 'Nem Tudo se Desfaz, Anda em Tudo um Resquício', usada de forma dividida nos títulos das duas colunas (17-24/9), é do poeta Bruno Tolentino (1940-2007).
Os extras são brinde espetacular. Para assistir, acesse nemtudosedesfaz.com – duração: 105 minutos, cotação: ótimo.
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