Quinta, 21 Novembro 2024

1ª Incursão bergmaniana

1ª Incursão bergmaniana

O enredo mostra um professor de latim, apelidado pelos estudantes, por conta da alta rigidez e sadismo com que os trata.  

Ingmar Bergman saiu da Universidade de Estocolmo (Suécia) no início da década de 1940 (estava com 23, 24 anos). Era diretor-assistente do Teatro Dramaten. Produziu peça de sua autoria, 'A Morte de Kasper', em 1941. Na indústria cinematográfica sueca entrou logo em seguida, trabalhando como revisor de roteiros. Ao abandonar o cargo no Teatro, adaptou outra história sua, escrevendo o primeiro argumento à Sétima Arte: 'Tortura do Desejo' (1944, íntegra no youtube), dirigido por Alf Sjöberg, experiente na área.

O enredo mostra um professor de latim, apelidado pelos estudantes, por conta da alta rigidez e sadismo com que os trata, de Calígula (Stig Järrel), e o cotidiano confronto particular com um deles, Widgren (Alf Kjellin). Quando o aluno conhece Bertha (Mai Zetterlling), desamparada, amedrontada, a perseguição do professor aumenta. O script aponta características que Bergman usaria na carreira: câmera lenta em determinadas e relevantes passagens, frieza no desenlace das intrigas, o sombrio estudo do lado negro dos personagens (todo mundo tem um, não adianta negar a ambiguidade) e o desenvolvimento do ambiente 'noir'.

Os diálogos sobressaem. Além de sarcásticos, corrosivos, alertam à maldade entranhada em Calígula, o simples prazer de perturbar a turma, em consonância com o medo enorme de ser confrontado pelos aprendizes, comportamento descoberto por um colega professor, bem mais velho.

A interpretação de Järrel é tão avassaladora que me lembrei de outro vilão histórico da telona, Hartman, de 'Nascido para Matar' (1987), com uma diferença: enquanto Hartman humilhava os soldados aos berros, Calígula menospreza os alunos com elegância e frases pronunciadas de forma mansa. Em 1946, 'Tortura do Desejo' ganhou o principal prêmio do Festival de Cannes. Bergman, que dirigiu a sequência final do longa-metragem (sem receber crédito) porque Sjöberg ocupou-se com uma atividade teatral, estava com outra trama na manga, que seria sua estreia na direção: 'Crise' (1946). Ele, logo na incursão número 1, mostrou a que veio. Duração: 97 minutos. Cotação: ótimo. 

 

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