Parte da história
'Ainda Estou Aqui': Baseado em livro do filho do casal, o jornalista Marcelo Paiva, a história está recortada, não inteira.
Pouco sabia, confesso ignorância, sobre o filme brasileiro mais badalado de 2024, 'Ainda Estou Aqui'. Dirigido por Walter Salles, é digno de elogios, principalmente na direção de arte e fotografia (a mudança da tonalidade de cores enquanto muda quando Rubens é levado de casa). Fernanda Torres está sublime como Eunice. Contida, serena, estupenda. Mereceu o Globo de Ouro, indicação ao Oscar. O Brasil torceu como nas Copas.
Quando Eunice está no limiar da insanidade, viúva (passou 12 dias na prisão, estava imunda), descarrega, durante o banho, toda a fraqueza, tristeza, agonia. A sequência é intensa. Eunice vai à cama descansar. É abrigada no colo da filha, tal qual Dora (Fernanda Montenegro em 'Central do Brasil', 1998, também de Salles) quando deita em Josué (Vinícius de Oliveira) quando está desesperada, pois tudo dava errado.
Uma das características do cineasta é colocar mulheres fortes no confronto com a dor absoluta, revelando, assim, que elas podem ir além daquela potência que supunham ser a máxima existente nelas mesmas. Selton Mello como Rubens Paiva foi trunfo certeiro da trama, que apressaram em politizar, porque Fernanda é notória militante esquerdista, e tapa os olhos aos apoios de Lula a ditaduras, como a venezuelana e iraniana.
Baseado em livro do filho do casal, o jornalista Marcelo Paiva, a história está recortada, não inteira. Rubens foi preso por hospedar o capitão Lamarca, desertor do exército. Ao contrário do que muitos pensam, dentre os mortos de 1964-85, metade queria a ditadura do proletariado, à moda cubana, metade apoiava o governo, que queria impedir aquele objetivo. A esquerda não foi vítima sozinha, como fazem questão de contar os professores. Assistam ao documentário '1964: Brasil entre Armas e Livros', no youtube. Espero que um dia também façam filme sobre a morte de Clezão ou a prisão do deputado Daniel Silveira. Não sabe que são? Pois é. Este é o país que você vive. Duração: 137 minutos. Cotação: bom.
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