'Alô! É do inimigo?! Por acaso vocês deram aí algum tiro na segunda-feira?! É que acertou num senhor que não é da guerra, e o homem está cá com uma raiva!!! É preciso ter mais cuidado! '. Este trecho faz parte do monólogo apresentado na década de 1960 pelo humorista português, Raul Solnado, quando esteve no Brasil a convite da TV Record de São Paulo. O personagem telefona para cobrar ética nos procedimentos da matança inimiga.

Mais de meio século depois, o mundo escancarado pela internet mostra ter perdido esse sentimento básico da ciência filosófica. O exemplo acima pode parecer absurdo, mas em procedimentos é muito comum hoje embora não caiba mais numa peça de humor.

Vimos há pouco uma cantora pisotear a bandeira nacional numa dancinha frenética. A mesma bandeira que foi proibida de ser ostentada, no próximo 7 de setembro, também em condomínio chique no bairro Alto da Boa Vista, em São Paulo, em nome da razoabilidade coletiva. Dias antes, outra cantora brincou numa entrevista de horário de almoço em uma emissora da capital que 'quem é a favor ao aborto não sabe quanto vale uma criança no mercado negro'. Também não dá para entender quando se ouve que 'o crime já foi praticado mesmo, para que prender o criminoso?'.

Resta-nos ao menos aprender que um pequeno cochilo na tão recomendada 'eterna vigilância' pode levar-nos a consequências em que uma simples narrativa de fatos inusitados nos leve a uma revolta imensurável. E que os absurdos atuais vão muito além do esquete inocente do citado humorista no início desta reflexão.

E quando o noticiário nos dá conta de que na 'guerra da vez' a Europa e o mundo estão com 'uma raiva' dos novos ataques nas proximidades de uma usina nuclear, será o mesmo que dizer 'que se matem, todavia mais pra lá'. Relaxem! Se perderam a ética, podem ter melhorado na pontaria (tomara!).

É a nossa opinião.