Shell Colombani demorou para entender que estava em outra cidade que não a sua Santo André, onde nasceu. Aos 4 anos, veio com os pais para São José dos Campos e achava que Jacareí ficava no mesmo município. Na infância, impressionava-se com o chafariz do Fórum jacareiense. Com o passar do tempo, fã de história e arte, dedicou-se a visitar prédios daqui. Entristeceu-se ao ver alguns abandonados.

O piano entrou em sua vida pelas mãos da mãe, Célia, que a ensinou numa espécie de xilofone. Shell era criança. Pegou a disciplina materna e o cuidado paterno – o pai, Claudenir, é dos poucos da região a tocar acordeon. A mãe ligava na Rádio Cultura quando a filha ia dormir. 'Devo ser uma das únicas crianças que dormia ouvindo Guerra Peixe', diz, referindo-se a César Guerra Peixe (1914-1993), compositor erudito. Ouvinte fiel, Shell escrevia à emissora pedindo músicas. Gravava-as em fitas cassetes, escutava sem parar.

Ficou 4 anos sem tocar. Formou-se em administração, mas sentia falta do instrumento. Voltou a ter contato ao receber convite a dar aulas num conservatório de São José. Foi como se estivesse retornando à casa. Vê a música como 'meio transformador na sociedade'. Morou 4 anos no Japão, onde fez um pouco de tudo: trabalhou em fábrica, deu aulas de piano a brasileiros... Aperfeiçoou-se no idioma e cultura locais. 'Os japoneses são benevolentes, pontuais. Havia concertos todo domingo à noite na TV estatal.'

Em Jacareí, leciona a crianças e adultos. Dentre eles um surdo, Miquéias, considerado por ela o seu melhor aluno. 'Quando ele chegou, fomos ensinando um ao outro: eu nada sabia de Libras, a linguagem de sinais, ele, de música. Não é, para mim, uma pessoa especial; é essencial.' Chopin é o compositor preferido dela. 'Faz a gente pensar. Quem nunca escutou, experimente.' O amor ao piano transformou essa Filha Brilhante, moldou sua biografia. Tudo iniciado graças aos ensinamentos da mãe.