Se fosse listar erros e cenas de mau gosto das duas temporadas de 'O Rei da TV' (disponível na Disney), sobre a trajetória de Silvio Santos, o espaço minguaria. Talvez nem caberia tudo. A família do apresentador reclamou de como a história foi narrada. Carlos Alberto de Nóbrega, amigo dele há 7O anos, passou mal ao ver os primeiros capítulos. Fãs se revoltaram com o conteúdo.

A obra trata Silvio como arrogante, destemperado emocionalmente, manipulador (no mau sentido), trapaceiro, desonesto. A 'licença poética', característica comum em adaptações, ultrapassou qualquer limite do aceitável. Por exemplo: supor que o 'Peru que fala' (apelido que Silvio tinha no rádio) passou Manoel de Nóbrega (Cacá Carvalho) para trás nas negociações do Baú da Felicidade, no fim dos anos 195O. "O Silvio foi uma das pessoas que mais ajudou meu pai", disse Carlos. Outro 'deslize' da produção envolvendo o criador de 'A Praça da Alegria': no velório da primeira esposa de Silvio, Aparecida, ele aparece dando os pêsames ao colega – mas ela morreu de câncer em 1977, o humorista faleceu em 1976.

A produção, para encaixar determinadas passagens, altera datas, idades e envolve personagens em situações inverossímeis, como o flerte de Patrícia Abravanel com um integrante do grupo musical adolescente Ludo – a cena mostra 1988 e pinta a jovem como se ela tivesse 15, 16 anos. Na verdade, naquele ano a filha de Silvio contava com somente 9. Íris (Leona Cavalli), a segunda e atual esposa, é retratada como 'vice do SBT', mandando e desmandando na programação sem o marido saber.

Um ponto positivo é a interpretação de José Rubens Chachá como protagonista. A caracterização é muito boa. Há ângulos em que a semelhança é impressionante. Só. Quem admira o apresentador e assistir a série se deparará com instantes nos quais dirá (ou pensará): 'isso não aconteceu', 'que mentira deslavada', 'que coisa deprimente', 'não foi bem assim', 'vou parar de ver'.