Pode-se afirmar que 'Olho por Olho' (1996, Netflix) é dos últimos filmes 'vingança fria' lançados nos EUA nos anos 90. Foi o período do fim do 1º mandato do governo Clinton, cuja agenda era expandir ideias progressistas. O politicamente correto começava a corroer instituições de todos os setores, arte entre eles. Se hoje, 2025, a história da mulher que deseja vingança do assassino da filha fosse rodada, sofreria críticas por, por exemplo, 'incentivar o armamento', 'fazer apologia a crimes' e focar em temas da 'extrema direita'.

O script conta a agonia de Karen (Sally Field). Um dia, parada num engarrafamento, enquanto fala com a filha no celular, ouve a garota, que estava em casa, ser atacada. Ao chegar lá, a mãe encontra um cenário tétrico – Julie (Olívia Burnette), 17 anos, foi estuprada e assassinada. Quando prendem o criminoso, Robert (Kiefer Sutherland), a justiça o solta dias depois, devido a um problema burocrático.

Obcecada, Karen começa a persegui-lo, a desespero do marido, Mack (Ed Harris), que quer voltar à vida normal. Karen chega a alertar uma moça, que não dá ouvidos a ela, sobre o sujeito. Tempos depois, a mulher é estuprada e morta por Robert – também liberto horas após por falta de provas. Ao frequentar grupo de apoio, Karen conhece pessoas que, como ela, descrentes de tudo, fazem justiça com as próprias mãos. Começa a ir a aulas de defesa pessoal e tiro. Elabora plano a aniquilar Robert.

A recepção à produção, como escrevi no começo da coluna, foi a pior possível. Críticos taxaram-na de mesquinha, amoral, vazia, que excitava o desejo de sangue no público e não discutir questões vitais, como a violência e a depressão. Discordo totalmente. O enredo capricha na emoção à flor da pele e tem o desagravo como protagonista. Não darei spoilers. Field, como de costume, dá um banho de interpretação, como Sutherland, na pele do sádico matador. Duração: 100 minutos. Cotação: bom.