Assim como Oskar Schindler (1908-1974), Nicholas Winton (1909-2015) foi um monstro, no bom sentido, na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Ambos tiveram suas histórias contadas no cinema. Quem não se emocionou com o impactante e espetacular 'A Lista de Schindler' (1993), ganhador de alguns Oscars, dentre eles o de Melhor Filme? 'Uma Vida' (2023, Prime) não tem a qualidade de 'A Lista de Schindler', mas faz lágrimas caírem.

Os atores Johnny Flynn e Anthony Hopkins se revezam no papel-título do banqueiro britânico que no fim dos anos 1930 vai a Tchecoslováquia antes da eminente invasão nazista ajudar um grupo de voluntários a salvar quase 700 crianças. Winton brigou e se arriscou para conseguir transporte de trem até o Reino Unido, passaportes e famílias dispostas a hospedar os resgatados por um tempo. Por décadas, ele fez pouco de seu gesto mais do que nobre. Quando uma pasta com recortes de fotos e jornais caiu nas mãos da produção do programa 'That's Life', em 1988, Winton teve o reconhecimento merecido: várias crianças salvas por ele foram encontradas, já com seus 60 anos, e tiveram a oportunidade de agradecer o então octogenário pessoalmente.

O longa-metragem vai e volta no tempo, num roteiro bem azeitado. É 'chover no molhado' afirmar que Hopkins dá um banho de interpretação. Flynn não fica trás e também entrega um bom trabalho. O diretor James Hawes, com vasta experiência em TV, estreia com o pé direito com trabalho seguro – temos Hopkins contido, na velhice pacata de Winton, se incomodando com o espaço que tem em casa, tentando 'vender' sua história ao jornal da cidade, que rejeita; e Flynn altivo, destemido: Winton de 30 anos, sem saber o significado da palavra medo.

Nicholas Winton morreu enquanto dormia, aos 106 anos, e foi homenageado em 1983 pela Rainha Elizabeth II com a Ordem do Império Britânico por seus serviços prestados. Um típico herói sem capa. Duração: 109 minutos. Cotação: bom.