O 31º aniversário de morte de Grande Otelo foi há alguns dias, 26/11. Tinha 78 anos. Faleceu em Paris, onde receberia homenagem pela carreira. Trabalho pouco conhecido, no filme 'Amei um Bicheiro' (1952, disponível no youtube) interpreta Passarinho, office-boy do jogo do bicho. Na produção está uma das mais inesquecíveis cenas talvez do cinema nacional, opinião do próprio Otelo, que pôs a modéstia de lado numa entrevista ao programa 'Jô Soares 11:30', de 1989, quando lembrou a sequência: o personagem se esconde numa cabine de gás, papéis da jogatina nos bolsos, para escapar da polícia.

No cubículo, sente o cheiro ameaçador, mas não sai dali, com medo de ser pego. Ao morrer, derrama uma lágrima pelo olho esquerdo, em meio ao suor que o empapava. "Naquela época, tinha terminado com a namorada. Estava muito sentido. A lágrima veio de verdade", disse a Jô. 'Amei um Bicheiro' é protagonizado pelo cantor, galã da época, Cill Farney. Ele é Carlos, ambicioso, apaixonado por Laura (Eliana Macedo).

O jovem entra na arriscada rotina da contravenção para dar uma vida melhor à amada. Acaba dominado pela gangue de Almeida (José Lewgoy), impiedoso líder. Quando Laura precisa ser operada às pressas, Carlos tenta passar a perna no chefe para roubar o dinheiro. Tem a ajuda de Yvonne (Josette Bertal), amante francesa. É pego, torturado, o que também ocorre com Laura.

No elenco estão Wilson Grey, Jece Valadão (nos créditos iniciais, 'Irecê Valadão') e o radialista Renato Murce. Na assistência da direção, o então iniciante 'José' Carlos Manga. Os diretores foram os estreantes Jorge Ileli e Paulo Wanderley, com roteiro dos atores Jorge Dória e Anselmo Duarte. A produção é ambientada na cidade do Rio de Janeiro, então capital federal, com malandragem típica carioca, onde bandidos vestiam ternos de linho e ameaçavam pessoas com navalha. Aliás, outra cena marcante é a do velório, onde Carlos deseja escapar da quadrilha. Duração: 89 minutos. Cotação: bom.