Uma visão neurocientífica e empática sobre o suicídio
Especialista diz que é fundamental adotar uma abordagem mais empática e menos julgadora em relação a essa questão.
O neurocientista luso-brasileiro Dr. Fabiano de Abreu Agrela, membro da Society for Neuroscience nos Estados Unidos e Biólogo pela Royal Society of Biology no Reino Unido, compartilha uma perspectiva crucial sobre o suicídio, um tema central da campanha Setembro Amarelo. Para o especialista, é fundamental adotar uma abordagem mais empática e menos julgadora em relação a essa questão delicada.
O especialista ressalta que o suicídio é o desfecho de uma depressão que perturba o instinto, a tomada de decisão e a capacidade de prevenção, 'resultando em uma ação súbita e incontrolável'. "Não deve, portanto, ser visto como fraqueza ou ser explicado de forma simplista", reforça.
Dr. Fabiano expressa preocupação com a tendência comum de julgar ou culpar o entorno da pessoa ou a própria pessoa afetada, ignorando os complexos mecanismos neurobiológicos subjacentes ao suicídio. Ele destaca que a depressão associada ao suicídio envolve alterações significativas na neuroquímica e estrutura cerebral, especialmente nas áreas que regulam o humor, a tomada de decisão e o comportamento impulsivo.
As disfunções no sistema serotonérgico, que regula o humor e a ansiedade, são frequentes, assim como a hiperatividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), que reage ao estresse. A inflamação neurogênica e a redução da neuroplasticidade no hipocampo e córtex pré-frontal também são características marcantes.
GENÉTICA
Estudos indicam que a predisposição genética ao suicídio, especialmente em contexto de depressão, pode ser influenciada por variações em genes que regulam neurotransmissores importantes como serotonina e dopamina. Genes como SLC6A4, relacionado ao transporte de serotonina, e BDNF, que afeta a neuroplasticidade, são particularmente importantes.
A genética, embora contribua para a predisposição ao suicídio, não determina isoladamente o comportamento suicida; ela interage complexamente com fatores ambientais como traumas e estresse crônico.
Além disso, a depressão grave pode levar ao 'desligamento' de regiões cerebrais responsáveis pela prevenção ao suicídio e pelo instinto de autopreservação, como o córtex pré-frontal. As disfunções neuroquímicas, como alterações nos níveis de serotonina e glutamato e o aumento do cortisol, reduzem a capacidade desta região de controlar impulsos e regular emoções intensas. Este estado de desregulação emocional compromete os mecanismos naturais de autopreservação, tornando mais provável que pensamentos suicidas evoluam para ações concretas.
VISÃO HOLÍSTICA
O Dr. Fabiano de Abreu Agrela enfatiza a importância de tratar o suicídio com uma visão holística e cientificamente informada, buscando abordagens que integrem conhecimento neurocientífico e compaixão, a fim de fornecer o suporte adequado às pessoas em sofrimento e conscientizar a sociedade sobre a complexidade deste grave problema de saúde pública.
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