Você não levaria a sério se...
Salvo as exceções, se fosse 'lá fora', possivelmente você não levaria à sério tal resposta; mas aqui no Brasil...
Ainda no século passado, certa vez, um jovem, que atingira a idade adulta fazia pouco tempo, foi participar de um encontro de ex-alunos do Colégio Paulistano, na capital, onde vivia. Coincidentemente, era época eleitoral. Aos mais íntimos que lhe perguntavam o que fazia na vida, dentre outras qualificações comentava a meia voz: 'também sou candidato a vereador, mas, por favor, não conte a ninguém'.
O aparente absurdo da frase, diante do potencial de eleitores representado pelo grupo de ex-alunos ali reunidos, tinha sentido. Era meio que – digamos – feio, sinônimo de má escolha, envolver-se em política depois de passada a 'fase de arroubos dos diretórios acadêmicos'. Pensava-se assim, fazer o que?
Mudaram os tempos. Mudaram?! A revista 'Isto É' publicou uma prática usada por candidatos às assembleias, Câmara Federal e até ao Senado na atual corrida eleitoral: omitir o nome do partido ou de coligações e até do candidato principal da própria chapa, para não criar possíveis repulsas perante o grosso do eleitorado.
Salvo as exceções, tal qual o batido 99,99 nas marcações comerciais de preços quando o valor é R$ 100, vivíamos naquela época 'pré-redessociais' um engodo velado; uma 'preocupação ética' (por que não?!) de respeitar a ingenuidade de quem se pretende enganar. Uma prática extinta na arena das disputas de poder, a ponto de um político massacrar a honra de outro num dia e aliar-se a ele no dia seguinte; de humilhar diante das câmeras de TV uma profissional que depõe, e sabe-se lá o que ainda assistiremos nos próximos 40 dias de campanha que 'sofreremos' pela frente.
Não se admire, portanto, se, dia destes, depois da eleição, você encontrar pela rua um amigo que disputou uma vaga eletiva, que lhe responderá, a meia boca, quando perguntado se fora eleito: 'shhh! Sim, fui; não conte a ninguém!'
Se fosse 'lá fora', possivelmente você não levaria à sério tal resposta; mas aqui no Brasil...
É a nossa opinião.
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