Preto no branco
Causou controvérsia a escalação do cantor e ator Seu Jorge ao papel principal por ser negro e Marighella, digamos assim, moreno claro.
Tenho minhas dúvidas se 'Marighella' (2019) demorou tanto a ser lançado por conta, como disse o diretor Wagner Moura no começo de 2020, 'de censura do governo federal e Ancine' (Agência Nacional de Cinema), que produziu o longa, previsto a ir aos cinemas em novembro de 2019, ou por 'capricho mimado' do ex-Capitão Nascimento, desde sempre confesso esquerdista pronto a falar mal de seu país no estrangeiro - estamos já em ano eleitoral.
Bolsonaro nada tem a ver com a fita, rodada entre 2017 e 2018, mandato de Temer. Noves fora, sem abordar aqui a figura do terrorista soteropolitano, assassino de brasileiros, o filme é sem sal e usa de subterfúgios dramáticos a transmitir, ou tentar, mensagem de que o protagonista era bem-humorado, romântico, bom pai e estava preocupadíssimo com a democracia verde-e-amarela. Baseado na biografia (boa) escrita pelo jornalista Mário Magalhães, o roteiro se concentra nos 2 últimos anos de vida, 1968-69, quando, mergulhado na clandestinidade, membro da Ação Libertadora Nacional, participava de assaltos a bancos e trens, doutrinava jovens à chamada 'guerrilha' e desejava transmitir valores marxistas-comunistas ao país.
Causou controvérsia a escalação do cantor e ator Seu Jorge ao papel principal por ser negro e Marighella, digamos assim, moreno claro. A intenção de Moura era aderir ao politicamente correto, deixar passar ao espectador que, dentre outros motivos, o ativista foi vítima de racismo. Asneira.
Tal qual, por exemplo, Carlos Lamarca, que era branco (teve cinebiografia em 1994 - Paulo Betti o interpretou), 'Mariga' foi perseguido pelos militares porque alastrava o terror por onde passava e precisava ser 'abatido'. Moura, como diretor, se mostrou sem pulso firme.
Arrumou jeito fácil de mostrar a história: câmera na mão, falseando agilidade com o fim de deixar 'à flor da pele' instantes de aventura da trama. Closes sem parcimônia serviram ao caldo estilista do novato diretor. Bruno Gagliasso, na pele de Lúcio, delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), se destaca - afirmou 'ter sofrido' ao dar vida ao 'personagem asqueroso'.
Pergunta capciosa, preto no branco: o que faria Capitão Nascimento se se deparasse com Marighella, aquele fanfarrão? Duração: 157 minutos. Cotação: regular.
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