O período analisado, junho de 2013, teoricamente, exemplifica a 'transformação histórica na política' tupiniquim.
O novo documentário do Brasil Paralelo, a trilogia 'A Direita no Brasil', entrevistou mais de 20 personalidades que viveram profundamente o ressurgimento do movimento. Eles tentam responder qual (se há, de fato) o futuro do conservadorismo no país. O período analisado, junho de 2013, quando manifestações populares pediam o combate à corrupção (aumento de 20 centavos na passagem do ônibus, 'saúde padrão Fifa' etc), e protestos de 8/1/23, em Brasília, teoricamente, exemplifica a 'transformação histórica na política' tupiniquim.
A produção gravou com bolsonaristas-raiz e críticos ao ex-presidente, além de liberais e jornalistas. A teia é composta desde Silvio Grimaldo, um dos mais próximos a Olavo de Carvalho, até Aldo Rebelo, ex-ministro de Dilma e até pouco tempo filiado ao Partido Comunista do Brasil, passando ainda por Fernão Lara Mesquita, Janaína Paschoal, Leandro Ruschel, Fernando Holiday, Joel Pinheiro da Fonseca, Sergio Moro e Bia Kicis.
Tanto a crise de identidade da direita como o seu 'boom' estão divididos em, basicamente: 1) 2013 e a influência de Olavo no 'renascimento' dos direitistas, inesperado, que sacudiu alicerces tradicionais, 2) Operação Lava-Jato e vitória de Bolsonaro em 2018, englobada aí a facada e as confusões que advieram e 3) retorno de Lula e perspectivas. O exame de consciência é válido por uma série de razões, algumas não tão fáceis de explicar. O filme não é amontoado de fatos narrados, mas a chance de reflexão de como tudo resultou no instante atual, onde pairam dúvidas, medos, fraquezas, frustrações, decepções.
Neste mergulho 'antropofágico' nas veias abertas do conservadorismo verde-e-amarelo, 'A Direita no Brasil' presta papel importantíssimo, até mesmo de 'cão-guia', quando a cegueira de parte destas pessoas é a teimosia mais torpe e enviesada. Fico longe dos spoilers. Mesmo assim, adianto que há teses interessantes acerca da perda de força do movimento, dos motivos que levaram a isso, seja pela influência do judiciário (o que era legal e ilegal desde a Lava-Jato teve consequências? Moro errou ao aceitar ser ministro?), da imprensa cada vez mais militante, ou da chamada 'governabilidade do presidencialismo de coalisão' a que Bolsonaro demorou (?) a incorporar. Cada episódio tem aproximadamente uma hora de duração. Cotação: ótimo.