Além do tumor, que acometeu filha do jornalista e ex-apresentador da Rede Globo, Tiago Leifert, 'teste' pode indicar outras doenças oculares.
O anúncio recente feito pelo jornalista e apresentador Tiago Leifert e pela mulher, Daiana Garbin, de que a filha, Lua, de um ano, tem retinoblastoma, um raro tumor nos olhos, serve de alerta para os pais. Esse tipo de câncer corresponde a 3% de todos os cânceres pediátricos, afetando um a cada 15 a 20 mil nascidos vivos ao ano. E, se detectado precocemente, pode ser curado em 90% dos casos.
O retinoblastoma é o tumor maligno intraocular mais comum da infância, que afeta a retina – estrutura fundamental da visão, pois capta as imagens que enxergamos.
"A doença é genética, mas apenas 10% dos casos têm histórico familiar. Acomete crianças menores de 5 anos e pode se apresentar de duas formas: unilateral, atingindo um dos olhos – é o mais comum, responde a 2/3 dos casos e em idade média um pouco mais tardia ao diagnóstico, com cerca de 2 anos; e o bilateral, quando ocorre nos dois olhos, representando 1/3 dos casos e costuma ser identificado em bebês com idade média de um ano", esclarece a oftalmologista pediátrica da Rede Mater Dei de Saúde BH, Marina Bernardes Leão.
O casal de jornalistas notou uma mancha esbranquiçada no olho da filha – esse é um dos sintomas de que algo não vai bem com a visão dos pequenos e pode ser observado pelos pais. Ao tirar uma foto com flash, se um dos olhos ou ambos ficarem com cor esbranquiçada ou amarelada é sinal de alerta.
Esse é o sintoma mais comum, está presente em até 80% dos bebês com retinoblastoma e é chamado de leucocoria ou 'olho de gato'. Os retinoblastomas podem causar outros sinais, como estrabismo (presente em até 1/4 dos casos), tremor e vermelhidão persistente nos olhos. O uso do flash é muito simples, já que hoje todo mundo tem celular.
"A leucocoria pode indicar outras várias patologias. O retinoblastoma – que acometeu Lua, é a menos comum, mas a mais grave. Entre as outras doenças oculares que podem ser sinalizadas pelo 'flash' estão a catarata congênita; infecção ou descolamento de retina; coloboma; opacidade de córnea; glaucoma congênito; grau elevado em um dos olhos; ceratocone; e outros tumores oculares", diz a médica.
Segundo ela, não basta achar estranho, "é preciso encorajar os pais a confiar em suas suspeitas, comunicá-las ao pediatra e levar o bebê ao oftalmologista", enfatiza.
TESTE REGULAR, ATÉ DOIS ANOS
De acordo com Marina Leão, o retinoblastoma é um tumor que pode passar despercebido, pois o bebê ainda não se queixa e se adapta à redução da visão, muitas vezes compensando com o outro olho, o que pode atrapalhar que a doença seja detectada no início. Por isso, ela diz que o melhor meio de verificar alterações visuais em crianças pequenas é a prevenção, que se inicia com o 'Teste do Olhinho' no nascimento - feito em qualquer hospital, privado e público, inclusive em todos do Sistema Único de Saúde (SUS).
Além disso, é recomendado ao pediatra que repita o Teste do Olhinho nas consultas de 3 meses, 6 meses, 12 meses, 18 e 24 meses.
Teste detecta várias alterações oculares
A Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica e o Conselho Brasileiro de Oftalmologia recomendam - mesmo para as crianças com 'Teste do Olhinho' normal e sem qualquer suspeita de alteração - o primeiro exame oftalmológico completo entre seis e 12 meses de vida, pois o especialista já consegue avaliar a visão da criança e se há diferença entre os dois olhos, se há indícios de estrabismo (desvio dos olhos), se há grau que precise ser corrigido por óculos, e analisar as estruturas oculares para verificar se há malformações ou doenças (entre elas, o retinoblastoma).
"Isso faz toda a diferença, pois se há necessidade de tratamento há maior chance de sucesso se iniciarmos mais cedo e menor risco de sequelas no futuro", acrescenta a oftalmologista pediátrica, Marina Bernardes Leão.
TRATAMENTO
O tratamento de retinoblastoma tem três pilares: salvar a visão do olho afetado, salvar o olho e salvar a vida da criança, uma vez que o tumor pode causar metástase em outros órgãos.
Existem diversas estratégias de tratamento e que podem ser combinadas entre si, com modalidades locais (laser, crioterapia, braquiterapia e quimioterapia local - subconjuntival, intravítrea ou intra-arterial seletiva), sistêmicas (radioterapia e quimioterapia convencionais) e cirúrgicas (retirada do globo ocular). A detecção da doença em fases iniciais é determinante para o sucesso em todos os três pilares.