Médica conta que, após 14 cirurgias e dores na perna, precisou usar uma órtese que a ajudou a melhorar sua rotina.
O Brasil completa 34 anos, em 2023, do último caso de poliomielite registrado no país. Dados do Ministério da Saúde apontam que, entre 1968 e 1989, foram notificados 26,8 mil casos da doença.
Em muitas dessas situações, pessoas que sobreviveram ao vírus podem ter desenvolvido algum tipo de comorbidade ou limitação provocada pela infecção nos casos mais graves. Com isso, necessitam de acompanhamento médico e até mesmo equipamentos para melhorar a mobilidade.
Assim como no caso da Covid-19, uma pessoa pode contrair o vírus que causa a poliomielite e não desenvolver a doença, ou apresentar sintomas leves, conforme explica o médico fisiatra e ortopedista de Porto Alegre (RS), Paulo Henrique Gomes Mulazzani. Ele comenta que o Brasil passou por surtos da doença durante o século 20, nos quais alguns pacientes desenvolveram a forma mais grave e tiveram os movimentos dos membros afetados. "Foram muitos casos que aconteceram no Brasil, mas notadamente foram contabilizadas as situações que resultaram em sequelas", diz.
Caso semelhante é o da médica Ryvia Rose Ferraz Bezerra, 51 anos. Aos nove meses de vida, ela foi diagnosticada com a doença, o que afetou seus movimentos. "Na ocasião, eu estava aprendendo andar. De lá para cá foram 14 cirurgias com o objetivo de me ajudar a caminhar. Com o decorrer do tempo, as dores na perna afetada pela doença me levaram a considerar a necessidade do uso de um equipamento que auxiliasse na minha locomoção", conta.
O especialista explica que essa consequência da poliomielite acontece porque o vírus afeta o sistema nervoso dos pacientes. "O nervo funciona como um fio elétrico que leva força do cérebro para as extremidades do corpo, passado pela medula. Com o agravamento da poliomielite, a transmissão da força fica comprometida. Muitas crianças cresceram, dessa forma, com alguma deficiência nos membros, e precisaram de equipamentos para garantir mais autonomia", explica.
ROTINA DE ADAPTAÇÃO
Ryvia passou a usar uma órtese já na vida adulta. Trata-se de um equipamento que melhora a mobilidade, ao mesmo tempo que ajuda na diminuição da dor, corrige más posições e também ajuda no processo de cicatrização, caso seja necessário. Ela procurou uma clínica da empresa alemã Ottobock, que é referência na produção destes equipamentos.
A médica utiliza a órtese C-Brace, que abrange joelho, tornozelo e pé. O equipamento permite ao paciente realizar movimentos em planos inclinados, solo irregular ou subir e descer escadas. A órtese possui tecnologia por sensores, o que torna a sequência de movimentos mais dinâmica para o usuário. Além disso, ajustes na articulação permitem que a pessoa ande de bicicleta. O médico fisiatra comenta que esses equipamentos com tecnologia mais avançada trazem facilidade na caminhada e mais estabilidade. "A pessoa consegue ter mais independência", completa.
Quando começou a usar a órtese, Ryvia passou por um momento de adaptação, que veio acompanhado do receio por estar com um equipamento envolto à perna. "Como é natural em todo começo, veio o medo de não me adaptar e de cair. Mas isso foi superado com perseverança e com o apoio que recebi da equipe que me auxiliou. Os profissionais que fazem parte da reabilitação são fundamentais na adaptação, manuseio e cuidados com a órtese", comenta.
MOBILIDADE
Para a médica, tem sido mais fácil realizar caminhadas de longas distâncias e ficar de pé por tempo moderado. "Como uso da órtese tem uma marcha quase funcional, consigo andar boas distâncias, e ficar em pé não é mais problema. Minha postura também ficou mais bonita e alinhada", afirma.
Como todo equipamento, a órtese que Ryvia utiliza precisa de cuidados. A médica afirma que é importante manter a higiene do equipamento, evitar molhar e sempre posicionar verticalmente a órtese quando não for utilizada. Ela também faz revisões periódicas para que a utilização seja mais eficiente.
Vacinação apresenta queda
no país desde o ano de 2016
Os índices de vacinação contra a poliomielite no Brasil têm apresentado queda desde o ano de 2016, o que liga um alerta na sociedade como um todo, em especial na comunidade médica e científica.
Naquele ano, pela última vez, o país superou a marca de 90% de cobertura vacinal do público-alvo, mas os índices caíram desde então. Em 2021, segundo o Conselho Nacional de Saúde, a vacinação atingiu 69,9% das crianças aptas a serem imunizadas.
Os números trazem preocupação porque, apesar de o Brasil ter registrado o último caso da doença em 1989, outros países do mundo ainda não erradicaram a doença, o que pode fazer o vírus voltar a circular por aqui.
SERVIÇO
Sobre a Ottobock
Fundada em 1919, em Berlin, na Alemanha, a Ottobock é referência mundial na reabilitação de pessoas amputadas ou com mobilidade reduzida por sua dedicação em desenvolver tecnologia e inovação a fim de retomar a qualidade de vida dos usuários. A Ottobock chegou ao Brasil em 1975 e atua no mercado da América Latina também em outros países como México, Colômbia, Equador, Peru, Uruguai, Argentina, Chile e Cuba, além de territórios da América Central. Atualmente, no Brasil, são sete clínicas, presentes em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Recife e Salvador.