O que preocupa mesmo é parte do eleitorado mostrar-se cada vez mais perdida em meio a tanta desinformação.
Foi entendida como 'uma escancarada falta de respeito à fé católica', uma charge do desenhista Otávio publicada no extinto jornal paulistano 'Última Hora', em agosto de 1963. Nela destacava-se, em caricatura, a imagem de Nossa Senhora Aparecida com o rosto do jogador Pelé. Aos pés da santa, o 'mosqueteiro' corintiano e o 'pescador' santista pediam ajuda para que seus respectivos times vencessem a partida na qual ambos se enfrentariam no dia seguinte.
A publicação provocou explosão de protestos dos leitores e dos católicos em geral nunca vista antes. Até mesmo pessoas neutras em religião manifestaram-se contra o jornal. O chargista teve de permanecer uns dias afastado e o proprietário da publicação, Samuel Wainer, pediu publicamente desculpas à comunidade católica então representada pelo cardeal da época.
Passaram-se 60 anos. Em 12 de outubro último, dia da mesma santa Padroeira do Brasil, um dos grandes jornais do país também publicou charge alusiva à data, porém focada na política. Embora o desenho fosse um tanto confuso, no conjunto é possível se notar claramente a quem se refere: a mesma santa de Aparecida, porém desta vez pisoteando símbolos malignos que remetem a um dos dois candidatos que logo se enfrentarão no segundo turno das eleições presidenciais.
Apesar da alegada falta de respeito para com o simbolismo da fé continuar a mesma, houve mudanças: mudaram os cenários do futebol para a política, e mudaram os tempos. Porém, nem mesmo pelas redes sociais houve qualquer ato de repúdio, clara ou disfarçada.
Deu mais comentário na quinta-feira (20) o ato do TSE que proibiu emissoras e comentaristas políticos, que cobrem a campanha eleitoral, a usarem contra candidatos expressões como 'ladrão, ex-presidiário, chefe de quadrilha, canibal, pedófilo' e assemelhados.
A classe política continua a mesma, porém os tempos são outros. O que preocupa mesmo é parte do eleitorado mostrar-se cada vez mais perdida em meio a tanta desinformação.
É a nossa opinião.