O Brasil viu mais uma vez sua juventude ser ceifada por atos brutais que, em vez de causarem comoção, parecem se dissolver na rotina.
A semana que se encerra parece ter nos impostos uma pergunta incômoda: a violência ainda nos surpreende? A resposta, infelizmente, pende para o não. O Brasil viu mais uma vez sua juventude ser ceifada por atos brutais que, em vez de causarem comoção, parecem se dissolver na rotina do noticiário.
Ganhou repercussão nacional a filmagem de um jovem sendo perseguido e empurrado para a morte sob as rodas de um carro em movimento. Não é apenas um crime. É um retrato. Um retrato da banalização da violência, da indiferença social e da falência de políticas públicas que deveriam proteger vidas, especialmente as mais vulneráveis.
DADOS QUE GRITAM
Segundo o Atlas da Violência, o Brasil registrou em 2023 uma média de 60 jovens assassinados por dia, totalizando mais de 21 mil mortes entre pessoas de 15 a 29 anos. Armas de fogo foram utilizadas em 80% desses homicídios. A juventude brasileira, que deveria estar construindo sonhos, está sendo enterrada em silêncio.
Estudos da Fiocruz apontam que jovens entre 15 e 24 anos são as maiores vítimas da violência física e mortes violentas, independentemente da região onde vivem. A violência não escolhe CEP — ela é democrática em sua crueldade.
O que assusta não é apenas o número de mortes, mas a forma como elas acontece. O caso do jovem empurrado para a morte, filmado como se fosse cena de um filme de horror urbano, revela uma frieza que parece crescer entre os próprios pares. A violência deixou de ser exceção e passou a ser linguagem cotidiana.
Trata-se de um colapso social. A ausência de oportunidades, o abandono escolar, o desemprego e a falta de perspectivas criam um terreno fértil para o ódio, a intolerância e a crueldade.
Quando a morte de um jovem deixa de causar indignação, o que resta da nossa humanidade?
É a nossa opinião.