Por José Luiz Bednarski em Sábado, 09 Novembro 2024
Categoria: O Quinto Poder

MMA Urbano

O melhor nesse caso é permanecer embarcado e assistir ao inferno humano pela janela. Ele não tarda a acontecer. 

Desconfie de aplicativos de localização e rotas de deslocamento, recomenda a longa espera no ponto de ônibus. Pela Rua Augusta, rumo ao Centro, descem hordas de mendigos inebriados por variadas substâncias ilícitas.

A manhã domingueira é de típica garoa paulistana. Finalmente, passa coletivo supostamente com destino à Praça da Sé, segundo o localizador eletrônico.

Todavia, a Praça Xavier de Toledo pega despercebidos os passageiros: o veículo não vira à direita no Viaduto do Chá. Segue em frente e contorna os fundos do Teatro Municipal, em direção ao Largo do Paissandu.

É um dos quarteirões mais perigosos da região, pululado de viciados em crack, sedentos por assaltar qualquer pedestre munido de objeto minimamente ambicionado, como celular e relógio de pulso.

Mesmo cada vez mais distante do destino programado, o melhor nesse caso é permanecer embarcado e assistir ao inferno humano pela janela. Ele não tarda a acontecer.

Dois cracudos desentendem-se e partem para a ignorância. Os pugilistas da noia trocam socos com eficiência, ambos detentores das técnicas de briga de rua. O mais jovem é mais ágil e começa a sobressair.

O excesso de golpes fraqueja o barbudão ferrabrás, que é nocauteado. Seu oponente, o glabro surfista descalço e descamisado, declina o tronco e prossegue a lhe saraivar com mais contundência.

Pia senhora critica o motorista por omissão de auxílio. Os embarcados vaiam-na. O cobrador filma a briga para publicar na internet.

A tunda persiste até inércia do vencido. Para finalizar o adversário, o prevalente chuta e pisa várias vezes a cachola do homem desfalecido, com força de Éder cobrando falta e Felipe Melo coiceando holandês.

Missão cumprida, o lutador glorioso parte em companhia feminina ganjenta, enquanto o amaciado jaz ao leito carroçável, rosto em textura de carne moída, sobre sanguíneo travesseiro. Os ônibus evitam atropelá-lo.

Após alguns minutos, o lesado tenta em vão levantar o pescoço e tomba novamente, exaurido. Quatro policiais militares, avisados, viram a esquina calmamente. 

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