Fiquei mais velho. Assisti a 'Laços' meses atrás e recentemente revi 'O Entardecer'.
Há determinados filmes que necessitamos rever após algum tempo. Eu devia ter uns 18 ou 20 quando assisti, numa dessas sessões da madrugada, 'O Entardecer de uma Estrela' (1996 – na íntegra no youtube). Odiei. Considerei arrastado, cafona, fiquei sem entender alguns pontos. Óbvio. O longa, não sabia, era a continuação de 'Laços de Ternura' (1983 – tema da coluna da semana passada), que não tinha visto ainda.
Fiquei mais velho. Assisti a 'Laços' meses atrás e recentemente revi 'O Entardecer'. Levei um choque. Antes, para nos situarmos: a história começa em 1988, 15 anos após a morte de Emma, filha de Aurora (Shirley MacLaine), e a família está destroçada – dos 3 netos (filhos de Emma), um está preso e rejeita a avó, outro vive com problemas financeiros e a caçula é rebelde, quer ir morar com o namorado em outro Estado (repetindo a mãe).
Aurora segue difícil de agradar e procura ajuda do psicólogo Jerry, com quem se envolve, e paralelamente briga com Patsy, melhor amiga de Emma. Nesta 'parte 2', o personagem de Jack Nicholson, o astronauta beberrão e mulherengo Garret, surge no terço final, onde dialoga com Aurora por poucos minutos, e ambos se recordam 'dos velhos tempos'. É desta conversa que vem o título do filme.
Mas o que sequestrou a minha emoção e me fez chorar foi o passar dos anos das nossas próprias vidas. Digamos que me enxerguei ali. Não por causa de semelhanças com pessoas, mas por situações que a trajetória nos obriga a viver, como as mortes que encaramos de frente e a idade avançada dos familiares, amigos. Este é o tema central: conflito de gerações.
Tenho a certeza de que, se eu for rever 'O Entardecer de uma Estrela' quando for sessentão ou setentão, derramarei 5 ou 10 vezes mais lágrimas, pois é isso o que a fita quer que percebamos. A interpretação de MacLaine, tal qual em 'Laços', é sublime. Alterna em certas cenas comicidade e tristeza, onde seu semblante muda com uma mera troca de olhar ou um gesto com as mãos. Robert Harling assinou a direção, se saiu muito bem. Duração: 129 minutos. Cotação: ótimo.