Filme aborda medos e desconfianças do pré-adolescente em relação a variados temas.
Há duas versões de 'Fanny & Alexander' (1982), obra-prima de Ingmar Bergman: a do cinema (3 horas de duração – íntegra no youtube) e da TV, como seriado (5 horas – apenas exibida em emissora sueca). O diretor prometeu (e cumpriu) que o longa seria sua última incursão na Sétima Arte. A partir daí, dedicou-se ao teatro e televisão. A história é a mais autobiográfica do cineasta, de sua extensa filmografia (é o 31º que vejo).
É contada em 3 atos (se passa no fim de 1907): festa de Natal, com família de artistas reunida; a morte do pai, com transtornos causados pelo acontecimento (a mãe se casa com bispo tirano, que maltrata a todos), e o retorno à casa da avó, matriarca. Bergman usou o personagem do religioso Edvard Vergerus (Jan Malmsjo, que era dançarino e músico) a escancarar diferenças que teve com o pai, que marcou a primeira infância. O cineasta pensou em Liv Ullmann e Max von Sydow a interpretar a mãe de Fanny e Alexander e o bispo – ela estava comprometida com Hollywood, ele recebeu o convite com atraso. Bertil Guve, o Alexander, alter-ego de Bergman, participou só desta fita – depois, largou a atuação e se formou em economia.
Com traços de onirismo, principalmente no terço final, quando o garoto contempla a imaginação com sua fuga e morte do padrasto, o filme aborda medos e desconfianças do pré-adolescente em relação a variados temas. Indicado a 6 Oscars, levou 4 (Filme Estrangeiro, Direção de Arte, Fotografia e Figurino – perdeu em Diretor e Roteiro Original).
Bergman se consagrou por abordar assuntos que soavam (soam até hoje) como se fossem do cotidiano, mas que, na verdade, se espalham pelo inconsciente, englobando, sem censura, desde a sexualidade livre, a religiosidade no último grau, dilemas de remorso e culpa, até a ferrenha defesa da transcendência amorosa, seja de que forma for. Era um gênio, sobretudo. Duração: 188 minutos. Cotação: ótimo.