A trama é baseada no livro 'O Trem das Crianças', de Viola Ardone. Cerca de 70 mil delas foram transportadas a esta espécie de intercâmbio entre 1946 e 1952.
Já há alguns meses entre os mais assistidos da Netflix, 'O Trem Italiano da Felicidade' (2023) é história de ficção com fundo de verdade. Na Itália do pós-segunda guerra, totalmente destroçada, crianças eram levadas do sul, onde a maioria era paupérrima, sem condição de criar os filhos, ao norte, cujas famílias não precisavam ser ricas, mas podiam receber melhor meninos e meninas, para terem vida mais digna. Bastariam o 'sim' dos pais.
Porém, ventos comunistas invadiam a ex-nação de Mussolini, com ameaças como 'colocarão os pequenos no forno', 'arrancarão mãos e pés' etc. O medo era inevitável. No filme, Amerigo é um dos garotos a conquistar a benfeitoria, após anuência contundente da mãe. Morador de Nápoles, é enviado a Módena a ter conforto, pelo menos no período das férias. Se com Antonieta, a mãe, a rotina era trabalho duro, pouca comida, pés descalços (chamava o filho de 'castigo'), com Derna, a fria dirigente política que o acolheu, ele frequentava escola, usava roupas e sapatos razoáveis, enchia a pança com iguarias que desconhecia, como a mortadela, chamada de 'salame rosa', além de outras adaptações no idioma e cotidiano com outros colegas.
A trama é baseada no livro 'O Trem das Crianças', de Viola Ardone. Cerca de 70 mil delas foram transportadas a esta espécie de intercâmbio entre 1946 e 1952, a maioria por iniciativa do Partido Comunista Italiano e União das Mulheres Italianas. Dirigido por Cristina Comencini, o roteiro esbarra no clichê desgastado, que sempre funciona e emociona, de o agora adulto Amerigo, famoso violinista, receber a notícia da morte da mãe e regressar à terra natal, enquanto recorda momentos da infância, tal qual 'Cinema Paradiso' (1988).
O tom comovente ilustra boa parte do longa. As atuações em parte exageradas do elenco fazem com que o espectador se identifique, principalmente com o travesso Amerigo, interpretado, na fase infantil, com destreza pelo carismático Christian Cervone. Duração: 99 minutos. Cotação: bom.