Seus artigos eram aguardados com ansiedade pelos homens do poder porque indicavam respostas, aconselhavam conclusões, criticavam quem merecia.
Independente, incorruptível, leal, bem informado, memória espetacular. No documentário 'Carlos Castello Branco, jornalista' (2005, na íntegra no youtube), produzido pela TV Senado, ele é descrito com estes adjetivos por amigos e colegas. José Aparecido de Oliveira, político e também jornalista, vai além: 'Considero-o como o melhor profissional de nosso tempo'. A obra conta com depoimentos de, entre outros, Antônio Carlos Magalhães, Marco Maciel, Itamar Franco, José Sarney, Carlos Chagas e Roberto D'Ávila.
Por décadas, Castellinho, como ficou conhecido, manteve coluna sobre política no Jornal do Brasil, onde analisava movimentos nacionais, revelava notícias dos bastidores do Congresso Nacional, ministérios, presidência da República. Seus artigos eram aguardados com ansiedade pelos homens do poder porque indicavam respostas, aconselhavam conclusões, criticavam quem merecia. "Quando Brizola precisou sair do Uruguai, estava sem saber o que fazer. Chegou num hotel. Lá estava a edição do dia do Jornal do Brasil. Começou a ler e Castellinho explanava ali o futuro do Brizola. Então, soube o que faria", disse D'Ávila.
Nascido em Teresina, Piauí, foi a Minas Gerais. No Estado, começou no jornalismo. Adquiriu a 'mineirice' dos nativos e passou a 'se deixar interpretar'. "Seu último livro, sobre a renúncia de Jânio, Castello explica tudo. Nas entrelinhas, sem adjetivar, sem falar mal, detalha que o ex-presidente queria virar ditador. Avisou para publicarem depois de sua morte. Até então, deixou trancado no cofre de um banco", lembrou Chagas, outro excelente articulista, que por anos comentou na TV Manchete.
Anos atrás, no programa 'Gente em Destaque', da TV Câmara Jacareí, entrevistei Carlos Marchi, autor da biografia de Castello, 'Todo Aquele Imenso Mar de Liberdade'. Nas páginas, esclareceu o motivo de as colunas serem tão informativas, mesmo com Castello não tendo o costume de anotar nada. "A memória dele era fabulosa. Nunca foi desmentido." Em 1982, foi eleito imortal da Academia Brasileira de Letras. Morreu dias antes de completar 73 anos, em 1993. Duração: 61 minutos. Cotação: bom.