O cotidiano das reuniões, do famoso 'chá das 5' que envolve contendas e querelas, estão na fita, recheada de boas histórias.
Disponível na íntegra no youtube, o documentário 'Português: a Língua do Brasil' (2012) mostra uma série de pequenas conversas do cineasta Nelson Pereira dos Santos com os seus então colegas da Academia Brasileira de Letras. São 17 escritores focalizados pelas lentes das câmeras coordenadas por Santos, que conduz os papos sobre o mesmo tema: como a ABL pode cuidar do nosso idioma pátrio, símbolo nacional.
Marcos Vilaça (que presidia à época), Cícero Sandroni, Sérgio Paulo Rouanet (sim, aquele que deu nome àquela lei contraditória), José Sarney, Antônio Carlos Secchin, Ivo Junqueira, Affonso Arinos, Arnaldo Niskier, Alberto Costa e Silva, Evanildo Bechara, Ana Maria Machado, Domício Proença, Moacir Scliar, Lêdo Ivo, Nélida Piñon, discorrem acerca do assunto, geralmente dando espaço à relevância de Machado de Assis e às diferenças de palavreados e expressões entre os Estados do país. Apenas 2 – João Ubaldo Ribeiro e Ariano Suassuna – são filmados nas próprias residências, Bahia e Pernambuco, respectivamente. Os demais, em salas diversas da instituição fundada em 1897.
O cotidiano das reuniões, do famoso 'chá das 5' que envolve contendas e querelas, estão na fita, recheada de boas histórias. Sarney (que recentemente completou 95 anos e está há 45 na ABL – é o decano da turma), por exemplo, narra trecho da carta que mandou ao avô quando de sua posse na entidade. "Escrevi que entraria na academia. Ele soltou foguetes, fez festa. Uma mulher chegou perto e perguntou o motivo da felicidade. 'Meu neto José foi para a academia!' A mulher devolveu: 'O que é academia?' Meu avô disse: 'Não sei. Só sei que é coisa grande.'"
Ubaldo explica distinções entre pronúncias de certas palavras, e lembra como foi o processo de redigir 'Sargento Getúlio'. "Sou mais do baiano barroco, e aquele livro se deu em sergipês antigo, não o de agora." Suassuna, por sua vez, nos brinda declamando o 'Sermão das Cinzas', do padre Antônio Vieira. Duração: 70 minutos. Cotação: bom.