Olavo, que se definia como 'escritor-conferencista' na gravação principal, narrou ali parte da trajetória pessoal.
Proposta número 1 do diretor Mauro Ventura no documentário 'Olavo Tem Razão' (2023, Ivin Films): desmontar falácias criadas pela imprensa militante e 'intelectuais' de esquerda a denegrir a imagem do professor-escritor-filósofo Olavo de Carvalho, morto em 24/1/2022 – 'terraplanista', 'filósofo autodeclarado', 'astrólogo', 'guru do bolsonarismo' são exemplos. Porém, usou poucos minutos.
Poderiam ser melhor exploradas certas detrações, como a que envolve a 'filha rebelde' Heloísa? Sim. Mas Ventura focou também em mostrar a rotina do protagonista, abalado por problemas graves de saúde a partir de meados de 2020, com idas e vindas a hospitais (um ano depois da ideia de Ventura de rodar o filme). Vemos, por exemplo, Olavo com respiradores artificiais, fios no nariz, e, em pé, numa máquina que o chacoalhava de jeito espantoso, minutos antes de 'entrar no ar' em mais uma aula do Curso Online de Filosofia (COF). Depoimentos de 30 personalidades – nomes do judiciário, política, imprensa e educação – ajudaram a ressaltar a relevância das obras, teorias, pensamentos, além de escancarar o lado doce, amigo.
Olavo, que se definia como 'escritor-conferencista' na gravação principal, narrou ali parte da trajetória pessoal: a doença que o deixou de cama nos 7 primeiros anos, separação dos pais na mesma época, participação em movimentos de esquerda na juventude, passagem de 18 meses na tariqa (confraria islâmica), demissão dos empregos no início da década de 2000, criação do COF, filhos e o encontro com Roxane, a segunda esposa, no início dos anos 1980. Tudo ilustrado por Giorgio Capelli e fotos de família.
O documentário é a apoteose de Olavo, especialmente quando filosofa diante das câmeras e fala do catolicismo, do qual, diz, 'nunca se afastou'. É mais do que mero réquiem à posteridade. Os fãs podem se surpreender com frases elogiosas do matemático austríaco Wolfgang Smith sobre o 'amigo Olavo'. A história contada por Rodrigo Gurgel, que passou 30 dias na casa dele (na Virgínia, EUA) em 2021, é emocionante – exibe o lado fraternal do autor de 'Jardim das Aflições' – naquela altura, sabia (imaginava?) estar nos derradeiros dias. O documentário tem também como destaques a bela fotografia e a impactante trilha sonora. Duração: 140 minutos. Cotação: bom.