Por Alana Gandra/Agência Brasil em Terça, 15 Março 2022
Categoria: Geral

Movimento: Campanha busca eliminar preconceitos em relação à obesidade

Pesquisa revelou que oito em cada dez pessoas já sentiram algum tipo de constrangimento devido ao excesso de peso.  

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) lançaram a campanha 'Obesidade: conhecimento, cuidado e respeito!', em alusão ao Dia Mundial da Obesidade de 2022, celebrado em 4 de março. O objetivo é conscientizar a população e eliminar preconceitos sobre o tema.

Um levantamento sobre obesidade e gordofobia, feito pelas entidades em fevereiro passado, com 3.621 pessoas, revelou que 88% delas apresentavam excesso de peso, sendo 37% com obesidade grau 3.

A pesquisa revelou que oito em cada dez pessoas com obesidade já sentiram algum tipo de constrangimento devido ao excesso de peso. Mais da metade delas afirmou ser vítima de discriminação pelo menos uma vez ao mês.

Revelaram ainda que é no ambiente familiar onde ocorrem mais episódios de constrangimento por causa do peso (72%). Em segundo lugar, aparecem as lojas e o comércio em geral (65,5%), seguidos por situações de discriminação no médico (60,4%) e no trabalho (50,7%).

De acordo com o Ministério da Saúde, o excesso de peso acomete mais de 60% da população brasileira, sendo que cerca de 20% dos adultos já são obesos.

Na avaliação da presidente do Departamento de Obesidade da Sbem, a endocrinologista Maria Edna de Melo, a única forma de conseguir minimizar o impacto da doença na saúde da população é por meio da ampliação do conhecimento sobre o tema e do oferecimento do cuidado adequado.

Para o vice-presidente do Departamento de Obesidade da SBEM, Márcio Mancini, antes de ir para a escola, a criança obesa já tem uma certa estigmatização dentro da própria casa, "fruto de como as pessoas com excesso de peso são tratadas de modo geral". Ele afirmou que "a piada sobre gordinho" é algo que a população ainda não considera como politicamente incorreto, mas como uma escolha individual da pessoa.

A discriminação em casa ocorre, principalmente, quando a família possui um filho com excesso de peso e outro magrinho, que compartilham o mesmo ambiente, a mesma alimentação muitas vezes, "mas a genética de um é diferente do outro", disse Mancini à Agência Brasil.

AJUDA
Maria Edna indicou que o preconceito pode, inclusive, piorar a obesidade, porque quase 30% das pessoas com sobrepeso importante acham que são culpadas por aquela condição e não buscam ajuda profissional.

"Não é uma questão de força de vontade", afirmou a especialista. Ela ressaltou que a obesidade é uma doença que sofre influência de diversos fatores como a genética, o estilo de vida, o estresse, a existência de outras doenças associadas, alguns tratamentos medicamentosos, além do tipo de alimentação que aquela pessoa segue. "Não é uma escolha individual, mas consequência de uma confluência de fatores", comenta.

OUTROS DADOS
A sondagem mostrou que 81% das pessoas com obesidade já tentaram perder peso de alguma forma, sendo que 68% recorreram à ajuda especializada, seja de médicos, nutricionista ou demais especialistas da saúde, e 32% o fizeram por conta própria. Desses, mais da metade (63%) investiram no combo dieta e atividade física.

Do total de pessoas que afirmaram ter tentado perder peso por conta própria, 18% declararam que fizeram uso de medicamentos sem acompanhamento médico e demais artifícios arriscados como substitutos de refeição (shakes), produtos ou medicamentos vendidos na internet, fitoterápicos e chás. Maria Edna afirmou que esses números refletem a resistência que as pessoas ainda têm de buscar ajuda especializada.

SUS
A pesquisa revelou também que somente 13% das pessoas procuraram ajuda para perder peso no Sistema Único de Saúde (SUS), sendo que 62% desse contingente declararam que não se sentiram confortáveis e acolhidos no atendimento.

Obesidade é um dos principais fatores de
risco para várias doenças não transmissíveis

Uma pessoa apresenta diagnóstico de obesidade quando seu Índice de Massa Corporal (IMC) é maior ou igual a 30 kg/m2. A faixa normal varia entre 18,5 e 24,9 kg/m2. Segundo o Ministério da Saúde, a obesidade é um dos principais fatores de risco para várias doenças não transmissíveis, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão, acidente vascular cerebral e várias formas de câncer.

O Dia Mundial da Obesidade foi criado pela Federação Mundial de Obesidade (WOF, do nome em inglês) com o objetivo de aumentar a conscientização sobre a doença, incentivar a mudança, melhorar as políticas de atendimento às pessoas com obesidade e compartilhar experiências.

A data comemorativa original era 11 de outubro mas, em 2020, ela foi mudada pela WOF para 4 de março. Segundo a WOF, 800 milhões de pessoas em todo o mundo vivem com obesidade e as consequências médicas da doença custarão mais de US$ 1 trilhão aos países, até 2025. 

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