Ninguém pode dar-se o luxo de abandonar criança, adolescente ou mesmo jovem inseguro entregues à própria sorte
Em novembro de 2000, no limiar do século 21, Jacareí viveu uma chacina em que foram executadas dez pessoas no Jardim do Vale. Na época, éramos "a cidade mais violenta do Vale do Paraíba". Dias depois, em janeiro, já neste século, bandidos invadiram um supermercado, na região central, levaram dinheiro do carro-forte e deixaram três mortos, inclusive uma grávida que perdeu o filho. Cinco anos antes, também em janeiro, jovens "tirando um racha", na Avenida 9 de Julho, atropelam e matam sete, dentre estes um bebê ainda em gestação.
Não temos espaço para enumerar quantas ocorrências assim aconteceram bem próximas de nós. Todas com características em comum: a prática envolveu jovens (no todo ou em parte) e era época em que não havia redes sociais como hoje nem jogos eletrônicos 'da pesada'.
Reportando-nos à chacina de Suzano, um aposentado promotor de justiça desta comarca afirma que, apesar de toda sua experiência em lidar com jovem infrator, chocou-se várias vezes com a frieza de muitos de 14, 15 anos que assassinaram pessoas e não demonstraram mínimo sinal de arrependimento ou emoção.
Por isto, quando vemos escolas guarnecidas com grades de ferro, câmeras de vigilância, projetos de instalação de catracas e outras parafernálias, é bom verificar se tais coisas são paliativos para desviar nossa atenção de realidades piores: jovens carentes de atenção, principalmente de seus familiares, a mergulhar fundo no crime (tipo de saída que julgam única), ou mais uma oportunidade (as parafernálias) de superfaturamento.
Ninguém pode dar-se o luxo de abandonar criança, adolescente ou mesmo jovem inseguro entregues à própria sorte. Há potencialmente chances de sermos a próxima vítima, independente de onde vivamos. Assim, uma contribuição espontânea nossa a esses abandonados de afeto, terá percentual seguramente creditado em nossa conta; tipo, 'um superfaturamento' do bem.
É a nossa opinião.