Das cerca de dez depoentes, todas pelo 'Coletivo Nandi', nenhuma conseguiu terminar seu testemunho sem chorar
Há várias 'Jacareís'. Existe a cidade do bolinho caipira, do petisco de boteco e da fuga para Caraguá no feriadão prolongado, o que é saudável, além de outras. Também somos, como todo o país, um centro de sofrimentos, abusos sexuais de menores, pais que espancam mães, mães que renegam filhos, e semelhantes tragédias domésticas. Viu-se isto na quarta-feira (19), um dos cinco dias (17 a 21) comemorativos dos 110 anos da Biblioteca Municipal. "Uma semana cívica de horrores" nessa linha, mas não faltaram afeto e esperança de melhoras.
Soninha*, 5 anos, presenciara o pai socar a cabeça da mãe contra a pia de pedra numa das constantes vezes que a estuprou na frente dela. Até que, aos 7, criou coragem e impediu que ele esfaqueasse a mulher fazendo-se de escudo para protegê-la. Hoje, aos 19, a cena ainda lhe é nítida na memória.
A mãe de Marta*, outro caso, separou-se do pai para que a filha não mais presenciasse brigas. Como Marta, traumatizada, passou a praticar automutilação, pensaram (mãe e pai) que o problema fosse pela separação e reataram o relacionamento; foi pior. As brigas recomeçaram. Certo dia, Marta ouviu da mãe que esta e o pai não desejavam que ela tivesse nascido: "fora um descuido". Jogou-lhe isso na cara "justificando" a violência do marido.
Das cerca de dez depoentes, todas pelo 'Coletivo Nandi', nenhuma conseguiu terminar seu testemunho sem chorar. Nem parte da plateia por ouvir. O 'Nandi' acolhe vítimas de violência doméstica e as orienta sobre direitos. Inclusive, 'cuidam' nas ruas para intervir quando deparam com situações de risco à mulher.
O projeto da Biblioteca procura atrair jovens para o hábito de ler e oferecer-lhes meios para superar traumas e prevenirem-se contra problemas por influência da leitura. Uma iniciativa que só aplaudi-la não resolve. É preciso apoiá-la incondicionalmente.
É a nossa opinião.
*Os nomes das depoentes são fictícios.