Na esperança vã de que um dia ganharemos, de fato, um desconto que compensará o sofrimento
Ninguém mais estranha um produto numa loja custar R$ 1,99. Nem o par de meias R$ 39,99 no shopping. Ainda não pegou muito bem o preço da gasolina a R$ 5,99, não por causa da 'merreca' quase ilegível de faltar um centésimo de real para atingir R$ 6, mas porque muitos preferem ficar sem pão a deixar o carro em casa, mesmo que seja só para protestar contra o preço.
Explicam os marqueteiros que o comerciante, ao apresentar o produto com preço de 99 depois da vírgula, 'provoca no freguês uma ideia de desconto' em que ele, freguês, agradece não pelo valor, mas pelo afago do abatimento. Isto até o induz a comprar mais coisas. Curioso nisso é que baseados em estudos feitos na Universidade de Cleveland (EUA) – há sempre estudos de uma universidade estrangeira endossando afirmativas do tipo –, o 0,99 é 'recomendável' aos comerciantes.
Vivemos um momento nacional farto de 'políticos 99': uns que fazem promessas mirabolantes acrescentando um sorriso 99; outros que garantem melhorar sua vida (não esquecer que a palavra 'sua' tem duplo sentido) com uma rasteira 99 no outro concorrente e, outro ainda, de tenebroso passado pelo poder, com a conversa99 de que só ele consertará o Brasil.
O desastre é que, 'estudos provaram', nós acabamos 'comprando a ideia' por causa do sorriso, da rasteira no outro e da simpática conversa fiada, e vamos enchendo o 'carrinho' desse mercado de ilusões, comprando desastres seguidos de desastres, na esperança vã de que um dia ganharemos, de fato, um desconto que compensará o sofrimento.
Desta vez, entretanto, as coisas foram longe demais. A maioria séria de nosso povo merece um desconto substancial e verdadeiro para corrigir os estragos e diminuir o tamanho desse perigo que só aumenta. Chegou a hora de avaliar as coisas com a devida sabedoria e pagarmos por elas o preço que realmente valem; nem um centésimo de real a mais.
É a nossa opinião.