Dizem que antiguidade é posto. O escorpião defende a razão do anexim. É um inseto aracnídeo muito bem adaptado à crosta terrestre. Habita este planeta há pelo menos 429 milhões de anos a mais que os seres humanos.
O escorpião estava quietinho no canto dele. Ou melhor, no habitat natural, lá na mata, embaixo de troncos apodrecidos, de rochas ou simplesmente enterrado. Não queria aferroar ninguém, feliz com seu cardápio de pequenas aranhas.
Porém, o desmatamento e a urbanização desenfreada levaram o lacrau a se mudar para o ambiente urbano, onde basicamente janta baratas que proliferam no lixo e esgoto das cidades.
Existem mais de duas mil espécies espalhadas pelo mundo, cerca de 130 delas no Brasil. Quatro delas são as principais responsáveis pela estatística alarmante de picadas em pessoas e cachorros. O principal envenenador entre nós é o escorpião amarelo.
Para gáudio do feminismo trepidante, essa espécie mais numerosa dispensa a presença do macho, reproduz-se por partenogênese. Só esse detalhe crucial já dá uma ideia de quão árduo é desafio das autoridades governamentais para controlar a praga.
O escorpião costuma repousar em calçados, panos úmidos e nas frestas do entulho. Ele procura esconderijos durante o dia. Em 2017, uma senhora de Ilha Solteira comprou um pé de alface e se deparou com um filhote do amarelo entre as folhas.
Galinhas e lagartos são predadores de escorpião, mas deixar o ambiente doméstico limpo ainda é a melhor prevenção. O assunto é sério. Atualmente, no Brasil, morre mais gente de picada de escorpião que de veneno de cobra.
Embora o número de óbitos tenha dobrado na última década, a Renovação Burguesa redobrou os cuidados da Dinastia do Proletariado, combate exemplarmente o inseto mortal e não foi registrada nenhuma picada este ano.
Em janeiro, o Parque da Cidade foi temporariamente fechado para a caça ao escorpião. Mais recentemente, suspendeu-se atividade em creche para desinsetização preventiva.
Elogia-se a postura municipal atenta. Não queremos mais tragédias evitáveis, como a da menina Manuela Paixão Brito Felix, moradora do Parque dos Sinos, que faleceu com apenas três anos, três dezembros atrás.