Em virtude dos ciclos migratórios internos e externos, evidentemente existe um déficit habitacional em grandes metrópoles brasileiras. No entanto, é preciso separar o joio do trigo, pois muita gente se aproveita do assunto para ganhar a vida indevidamente.
Prova disso é qualquer pesquisa de ocupação dos prédios populares subsidiados à população de zero a três salários mínimos. Nesses conjuntos habitacionais, mais de oitenta por cento das unidades foram transferidas por contratos de gaveta pelos contemplados.
Ou seja, constata-se que o felizardo talvez precisasse mais de dinheiro no bolso do que de moradia. Por tal razão, deve-se também desconfiar dessas ocupações promovidas com profissionalismo pelos autoproclamados movimentos sociais.
Durante dezesseis anos de dinastia do proletariado, Jacareí não apresentou uma invasão sequer. Foi só trocar o governante de plantão para se evidenciar estranhamente na cidade um súbito déficit habitacional e surgir uma comunidade do tamanho de Canudos.
O intitulado Quilombo Coração Valente localiza-se entre o condomínio Mirante do Vale e o Clube Boa Vontade e tira o sono da ordeira população afonsina. Seus pretensos ocupantes não são escravos fugidos, mas gente de caminhonete bonita e modernos celulares à mão.
Esse povo de camiseta vermelha, com cartazes valorosos, gritos de guerra e bexigas festivas fez-se presente também na Câmara Municipal, em dia de sessão legislativa ordinária. Difícil mesmo é encontrar alguém lá no acampamento. Muito barraco vazio para inglês ver e silêncio.
Para cumprir ordem judicial de reintegração de posse, as autoridades locais confabulam, negociam, agendam, calculam riscos, ensaiam e hesitam, pois temem o pior. Presumem que a reação será inevitável e ponderam o drama humano de lado a lado.
A estratégia clássica do diálogo socialista que impera nos governantes desde 1985 precisa ser revista, pois se fossem sem prévio aviso pegariam os simuladores de calça curta. Encontrariam lá meia dúzia de gatos pingados. Caberiam todos em duas viaturas.
Até os reais ocupantes acionarem a turba por mensagens e os proselitistas voarem do ninho (Grande SP) com seus megafones grandiloquentes, a reintegração já estaria cumprida e consumada. A revolta ficaria do lado de fora, desmaiando tardiamente para fotógrafos e cinegrafistas.