Em 2017, foi lançado em Jacareí o livro Em Busca da Liberdade (72 páginas), com seis histórias de processos judiciais envolvendo escravos como réus ou vítimas, encontrados no Arquivo Histórico Municipal, e relação das parcas fontes consultadas (um livro, duas teses acadêmicas e cinco artigos).
Resume-se a proposta logo ao início do trabalho (pág. 8): negar a abolição da escravidão como ato assistencial ou humanitário, e propor a criação de uma narrativa histórica em que os negros jacareienses assumem o protagonismo mavórtico.
Para reduzir falhas de caráter e transformar personagens comezinhos de brigas de botequim e furtos em abnegados heróis abolicionistas, faz-se uma ginástica recheada de subjetivismos ("imagino" - 28), suposições ("tudo levava a crer" - 46) e divagações oníricas ("gosto de pensar que" -58).
Por si só, os 'faits divers' empobrecem qualquer jornalismo. Somados ao cárcere do pensamento na masmorra marxista, eis a receita segura para decepcionante resultado, de tom até pueril ("Aquilo não era certo, ele não podia sair impune dessa" - 67, "as autoridades faziam cada pergunta...e essa foi uma ótima resposta" - 55).
O engajamento proselitista desse produto pretensamente cultural amolda qualquer circunstância na simplória explicação da luta de classes.
O homem branco é generalizado como explorador (39 e 52), empreendedores são demonizados e os mecanismos policiais e judiciais servem-lhes exclusivamente ("as autoridades fechavam os olhos para seus crimes, afinal, seus clientes eram homens de muitas posses, em sua maioria, grandes fazendeiros" - 53).
Quando o apego cego à ideologia nega a realidade, surge involuntariamente a pérola cômica: "ela foi absolvida, mas não porque o juiz e os jurados eram bonzinhos..." (32). Ou seja, até o benefício deve ser considerado ato orquestrado de dominação.
Os mais surrados clichês, como "homem poderoso na cidade, ninguém estava disposto a mexer com ele" (46), a diatribe racial à Princesa abolicionista (70) e o crasso gerundismo arrematador ("continuaram sendo" -71) despertam a conveniência de doravante racionalização de celulose e dos recursos da LIC.
Enquanto tal consciência tarda, o bom-senso refugia-se à sombra de Voltaire: "posso não concordar com nenhuma das palavras que dizeis, mas defenderei até a morte vosso direito de dizê-las".