O Muro de Berlim envergonhou o mundo, de agosto de 1961 a novembro de 1989. Mais que um símbolo da Guerra Fria, sua existência erigia um culto aos regimes totalitários que, por trás de promessas utópicas, escravizam o ser humano.
Quem viveu aquela época vislumbrava a eternidade daquele estrupício, mas a barreira física foi derrubada subitamente com uma declaração equívoca do porta-voz alemão-oriental. Afinal, o povo escuta o que quer ouvir, não o que realmente foi dito.
A Alemanha foi reunificada, porém a cada dia se percebe que a polarização ideológica sobrevive e ainda há que acredite na redentora missão empreendedora do Estado parasita, a despeito de isso nunca ter funcionado eficientemente na trajetória humana.
Os especialistas batem cabeça. Cada um divulga prematuramente suas convicções pessoais travestidas de ciência. Nem a OMS se vexa ao cair em contradição. Já que as reputações foram parar no ralo, os políticos testam seus poderes ao limite.
Contudo, no Brasil, ordens ninguém leva a sério, nem mesmo as autoridades que as emitem. Ficar em casa é para os fracos, ganhou pecha antidemocrática. O cidadão comum cansou de quedar recluso. Está com febre de consumo; e a economia, à beira do surto inflacionário.
A quarentena prolongada caiu rapidamente em desuso e a taxa de isolamento social atingiu porcentagens ridículas. O mundo está mais preocupado com o Brasil que os próprios patriotas. O coronavírus é apenas mais um fator de risco calculado do cotidiano tupiniquim.
O clangor governamental da obrigatoriedade de máscaras nos estabelecimentos comerciais soou aos ouvidos popularescos como 'comerciantes, abri as portas clandestinamente; clientes, passeai e aglomerai-vos; não temais, o anteparo vos protege - in hoc signo vinces!'.
A contaminação circula pelo ar. A curva estatística ascende vertiginosamente. Como de costumes, vivenciamos leis antiaderentes, desobediência civil disfarçada, anedotas sombrias e a moda fútil nas estamparias de tecidos órfãos de adequada higienização e manuseio.
Pré-candidatos a vereador granjeiam votos na periferia, distribuindo pão amanhecido e roupa usada. O povo de smartphone à mão e churrasqueando espetinhos suspeitos enfileira-se desnecessariamente à porta de agências bancárias. Eis o retrato da República Federativa do Brasil.