Conversar com Luiz Roberto Miguel Marques, o "Beto Passarinheiro", é uma volta ao passado de Jacareí. Mas, não a um passado qualquer, mas ao tempo do Bar Brasil, centro nervoso da intriga política; do bar Fisguetti (que abria só à noite, fechava ao nascer do Sol e era uma espécie de estádio do jogo de porrinha), do Xiboca, do Bar dos Quatro (cantos), dentre outros pontos "históricos" de folguedos; foi um passado de amigos leais, mas que um jovem da região central precisava de "salvo-conduto" (ele era um dos poucos que tinha um) se quisesse atravessar a ponte e ir "folgar" no bairro do São João sem levar uma surra da turma de lá.
Era o tempo da Jacareí do carnavalesco Romeu de Barros, do lendário Epe, do Tinguera, do Nassibão, do Enéas, do Sérgião Rodrigues, do Madrugada Futebol Clube (que tinha campo em propriedade do Zé Abrão, na Rua Lúcio Malta), dos circos itinerantes armados no hoje Largo do Riachuelo e da área do Esmaga Sapo, onde foram construídos os prédios da Câmara, Fórum e prefeitura. Essa cidade lendária sempre é lembrada pelos mais antigos com suspiros. Foram tempos em que se tinha certeza de que Jacareí fora fundada pelo bandeirante Antônio Afonso.
Nascido na Rua Luís Simon, elevive há mais de 60 anos na mesma casa. Ali mesmo, há 42 anos abriu com o pai, Jesus Marques, em 1976, quando saiu de seu último emprego, na indústria SADE, uma loja de pássaros e rações. Beto começou a trabalhar aos 14 anos na fábrica do Guaraná Campeão. Foi aluno da Odete Tertuliano, depois do professor Fausi, com quem estudou a extinta OSPB (Organização Social e Política do Brasil), e mais tarde da professora Clélia, na escola Silva Prado.
Por conta dessa vida memorável, a loja do Beto, na Rua Luis Simon, transformou-se num heroico reduto de resistência onde "conspiradores do bem" protegem essas boas lembranças contra os efeitos do esquecimento danoso dos tempos atuais. Quase sempre Beto está na loja "em reunião" com um grupo de amigos praticantes do bom bate-papo de final de tarde. Afinal, resistir é preciso.